Donos de sete títulos de Grand Slam, o torneio mais importante do tênis, Marcelo Melo e Bruno Soares vão atuar juntos nos Jogos de Tóquio. O objetivo dos tenistas é conquistar a inédita medalha para o País naquela de que deve ser última Olimpíada de cada um. O melhor resultado do Brasil na Olimpíada até hoje pertence a Fernando Meligeni, que ficou em quarto lugar na competição de simples em Los Angeles, em 1996.

A preparação será especial. Ambos farão treinos conjuntos e disputarão os Torneios de Munique, entre 27 de abril e 3 de maio, e o de Stuttgart, de 6 a 14 de junho. Além disso, Melo e Soares vão fazer sessões especiais de treinos em Belo Horizonte, onde os dois moram, e também em outras cidades.

“O nosso projeto olímpico é muito especial. Conquistar a medalha é o objetivo número um de nós dois”, afirmou Soares. “A Olimpíada é especial, tem a atenção de todo o país, até de quem não acompanha o tênis. E queremos dar essa alegria aos brasileiros”, acrescentou Melo.

O treinamento atual pretende afinar uma amizade de infância, que já dura mais de 20 anos. Os dois são mineiros de Belo Horizonte, jogam juntos (e se enfrentam) desde os 11 anos, nas quadras do Minas Tênis Clube. A medalha em Tóquio seria o ponto alto de uma carreira quase sempre vivida em dupla.

Ambos afirmam que tantos anos de convivência trouxeram um entrosamento quase perfeito dentro da quadra. Bruno conta que seu forte é o fundo de quadra enquanto Melo tem o melhor jogo de rede do circuito. “Quase sempre ele sabe o que vou fazer. Esse é um diferencial importante para quem quer buscar uma medalha”, diz Bruno.

“A gente se complementa no estilo de jogo e na personalidade. Somos dois caras tranquilos que entendem bem o jogo, aprendemos com os dois e sabemos superar os momentos difíceis. Essa confiança de nos conhecer no olhar, que vem de jogarmos juntos desde pequenos, é um diferencial importante”, avaliou Soares.

A preparação em conjunto exige sacrifícios. Os dois tiveram de abrir mão da Copa Davis, que será disputada nos dias 6 e 7, Austrália. As viagens e os fusos horários trazem desafios para a recuperação física, e os dois preferiram se preservar. É a primeira vez desde 2007 que Melo não vai para a Copa Davis.

TÍTULOS – Melo e Soares são os dois maiores duplistas do tênis masculino brasileiro com os sete títulos de Grand Slam que somam, considerando-se duplas mistas e masculinas. São dois de Melo e cinco de Soares. A lista é longa, mas merece ser revista. Melo já conquistou os torneios de Wimbledon (com o atual parceiro, Lukasz Kubot) e Roland Garros (ao lado de Ivan Dodig). Soares é bicampeão de duplas mistas do US Open (2012 com Ekaterina Makarova e 2014 com Sania Mirza), ganhou ainda o torneio americano de 2016 ao lado de Jamie Murray. Junto com o britânico, venceu o Aberto da Austrália de 2016 e ao lado de Elena Vesnina conquistou as duplas mistas no mesmo torneio. Hoje, Melo é o oitavo do ranking enquanto Soares está no 24º lugar.

ÚLTIMA CHANCE? – Melo e Soares vão repetir em Tóquio a dobradinha dos Jogos de Londres e do Rio. Nas duas ocasiões, eles foram eliminados nas quartas de final. Para Bruno, as edições anteriores trouxeram experiências importantes. “Já sabemos como será o clima dos Jogos e os desafios que vamos enfrentar. A experiência ajuda bastante”, disse Bruno. “Chegamos às quartas de final por duas vezes, em Londres e no Rio, mas agora queremos ir além e pegar essa medalha de ouro”, acrescentou Melo.

Nos Jogos do Rio, em 2016, a dupla chegou para a disputa cercada de expectativas, mas caiu nas quartas para os romenos Florin Mergea e Horia Tecau.

A Olimpíada de Tóquio provavelmente será a última da carreira dos dois. Marcelo Melo tem 36 anos; Bruno, 37. Nesse contexto, o ex-tenista Gustavo Kuerten aprovou a programação deles de treinamento conjunto e pausa na Copa Davis. “Provavelmente será a última Olimpíada deles e todo esforço vai valer a pena”, disse o tricampeão de Roland Garros durante o Rio Open, em fevereiro.

A trajetória será tão importante para os dois que será produzido um documentário para contar toda a história da caminhada e da disputa olímpica em Tóquio. Além disso, o objetivo do registro é mostrar o legado dos dois para o esporte brasileiro.