Pressionados pelos consumidores, que buscam smartphones cada vez mais duráveis, os gigantes da tecnologia multiplicam esforços para melhorar o desempenho das baterias. Um novo desafio para o setor, que ao mesmo tempo precisa reduzir a sua pegada ambiental.

Maior autonomia, recargas mais rápidas, menos dependência de metais estratégicos… “Todos os fabricantes procuram ter baterias mais eficientes (…) Sentimos que é um setor que está atrasado, que precisa avançar”, disse o analista da Forrester, Thomas Husson, à AFP.

Desde o surgimento dos primeiros smartphones na década de 2000, houve progressos significativos, graças em grande parte às tecnologias de recarga rápida, como destacam muitos fabricantes no Mobile World Congress (MWC), que começou nesta segunda-feira (26) em Barcelona.

A margem de progressão é, no entanto, ainda muito ampla, já que a capacidade das baterias – que, em sua maioria, apresentam autonomia de um dia e vida útil de alguns anos – é um dos pontos fracos dos smartphones, submetidos a usos cada vez mais intensos.

A proliferação de aplicativos de alto consumo aumenta a procura por “baterias de grande capacidade”, destaca a empresa Allied Market Research. Isso, por sua vez, estimula a corrida pela inovação entre grandes fabricantes, como Samsung, LG Chem e Panasonic, acrescenta.

– Novas tecnologias –

Hoje, a maioria dos smartphones usa baterias de íons de lítio, que funcionam com eletrodos imersos em um líquido chamado eletrólito. Isso lhes permite concentrar muita energia em pouco espaço, mas em troca acumulam muitos metais raros e degradam-se com o tempo.

Para evitar este problema, os fabricantes buscam há anos tecnologias alternativas, como o lítio-enxofre, o lítio-carbono ou o grafeno, na esperança de prolongar a vida útil dos dispositivos e reduzir a sua dependência de materiais críticos.

A chinesa Honor desenvolveu, assim, baterias de silício de carbono e chips que regulam a corrente em função das necessidades do seu smartphone Magic 6, apresentado em Barcelona. Um desenvolvimento que se tornou necessário devido ao surgimento de “funcionalidades baseadas em IA”, que demandam muita energia, destaca o seu CEO, George Zhao.

A coreana Samsung, com forte presença no MWC, trabalha em um protótipo de bateria que utiliza um eletrólito sólido, com densidade energética “mais alta”, conforme indicado, e livre do “risco de explosão”. Segundo a imprensa coreana, sua comercialização poderia começar em 2027.

Mas há quem vá ainda mais longe. A start-up chinesa Betavolt Technology anunciou, no início de janeiro, que está preparando um modelo de minibateria de “energia atômica”, capaz de fornecer eletricidade a smartphones “durante 50 anos” sem a necessidade de recarregá-los.

Essas baterias, que utilizam a energia liberada pela desintegração do níquel-63, “entraram em fase de testes com vistas à produção em grande escala”, sublinhou em um comunicado esta empresa sediada em Pequim, que não informou uma data para a sua chegada ao mercado.

– Corrida pela inovação –

Para os fabricantes, que propõem modelos de telefones cada vez mais parecidos, esta corrida pela inovação é “uma oportunidade para se distinguirem”, uma vez que os consumidores têm “grandes expectativas” em relação às baterias, observa Thomas Husson.

Estes progressos são, por vezes, fruto das exigências dos legisladores. No ano passado, o Parlamento da União Europeia votou uma diretriz que exigia que os fabricantes equipassem, até 2027, seus dispositivos com baterias que tenham um nível mínimo de materiais reciclados.

Neste contexto, o mercado global de baterias deverá progredir fortemente para atingir 38,6 bilhões de dólares em 2030 (192,4 bilhões de reais, na cotação atual), em comparação com 21,2 bilhões de dólares em 2020 (cerca de 110 bilhões de reais, na cotação da época), de acordo com a Allied Market Research.

Esta dinâmica poderia aumentar o interesse dos gigantes dos smartphones, que até agora demonstraram uma tendência de terceirizar essa atividade.

Segundo o jornal coreano ET News, a americana Apple também trabalha em uma tecnologia própria para suas baterias, com o objetivo de equipar seus aparelhos até 2025. Uma tendência cada vez mais perceptível entre os fabricantes, muito interessados em reduzir a dependência de fornecedores.

Um impulso renovado, mas com resultados ainda incertos. “Nunca foi investido tanto dinheiro em baterias”, embora “ainda não haja sinais de um grande avanço tecnológico”, avalia Ben Wood, da CCS Insight. Todos os fabricantes “estão trabalhando nisso, então, em algum momento, novas tecnologias surgirão”, afirma Thomas Husson.

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