Meirelles vê exagero em críticas a Haddad: ‘Faz o que pode no governo’

Em entrevista à IstoÉ , ministro da Fazenda durante o governo Michel Temer afirma que as ações econômicas do governo não assustaram e que a 'gastança' do Planalto estava prevista na campanha de 2022.

Leonardo Monteiro/IstoÉ
Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda durante o governo de Michel Temer (MDB), em entrevista à IstoÉ Foto: Leonardo Monteiro/IstoÉ

O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles afagou o ministro Fernando Haddad e disse que o atual chefe da pasta “faz o possível no governo”. A declaração foi dada em entrevista exclusiva à IstoÉ , em que defendia a economia do país e disse não ver uma crise crescente no curto prazo.

Para Meirelles, Haddad precisa se equilibrar dentro do governo em meio ao aumento dos gastos do Palácio do Planalto. O economista vê um enfrentamento certo do ministro da Fazenda com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para implementar uma política mais duradoura para o desenvolvimento econômico.

“Eu acho que o Fernando Haddad está fazendo o que é possível fazer nesse governo. A crítica que veio é a seguinte: ele deveria fazer o certo mesmo, que é suportar, confrontar o presidente e colocar uma política mais dura.”

“O ministro Fernando Haddad tem que se equilibrar porque, afinal de contas, ele ocupa uma carga de confiança. Como se diz aí, em termos técnicos, ‘de livre nomeação e exoneração’.”

Haddad tem enfrentado um “fogo amigo” dentro do governo. Na avaliação de petistas mais radicais, as ações do ministro provocaram uma crise na imagem do governo.

Os ministros apontaram a Lula exemplos como a crise do Pix para tentar colar Fernando Haddad à alta rejeição do governo entre os eleitores. O encontro pode gerar reflexos na reforma ministerial, com Haddad perdendo espaço para Rui Costa (Casa Civil) e Gleisi Hoffmann, que assumirão a articulação política do Planalto.

O ministro da Fazenda ainda foi criticado por petistas e adversários pelo pacote de gastos apresentado no fim do ano passado. Enquanto aliados de Lula afirmavam que mexer em benefícios sociais (Bolsa Família e BPC) poderia prejudicar a campanha de 2026, o Centrão e o mercado financeiro viram uma proposta aquém do esperado.

Meirelles, por outro lado, vê que o pacote cumpriu as expectativas do que o governo tem apresentado. Para o ex-ministro de Michel Temer (MDB), as mudanças feitas no texto, além dos cortes superficiais em meio ao aumento dos gastos públicos, podem gerar consequências até mesmo para os programas sociais, principal bandeira do governo atual.

“Olha, o pacote que foi feito, eu não esperava algo muito superior a isso. Não fiquei decepcionado, porque eu vi as declarações de todos, não só do Haddad, mas também, em privado, do próprio presidente, quando ganhou a eleição, que a ideia era tentar promover o crescimento gastando mais recursos públicos e até expandindo programas sociais.”

“Então, isso não é surpresa. Mas não há dúvida de que isso gera consequências, que são exatamente as que estamos citando”.

Henrique Meirelles comparou o atual governo com o de Lula I e II em relação aos gastos. O ex-presidente do Banco Central na gestão do petista avalia que Lula está cumprindo uma promessa de campanha de aumento dos gastos, ao contrário do que fez em 2003, quando tinha uma avaliação positiva dos deputados.

“Do ponto de vista econômico, acredito que, no governo atual, o presidente tem cumprido seu compromisso de promover uma expansão fiscal, conforme prometido durante a campanha. Ele, com o apoio do ministro, do Planalto e de seu próprio partido, tem seguido essa diretriz de forma consistente.”

“No primeiro mandato, ele executou essa política de austeridade fiscal. Deu muito certo. Agora, principalmente como resultado da polarização entre ele e Bolsonaro, ele fez uma campanha realmente à esquerda, no sentido de ser estatizante, de intervir e induzir o crescimento gastando mais. Então, isso é bem diferente do que ele fez no primeiro mandato.”

Ao pontuar as diferenças, Meirelles acredita ser difícil para o governo cumprir uma das principais promessas econômicas feitas: o déficit público zero. Em 2024, o governo chegou perto da meta máxima, de 0,25%, podendo atingir 0,40% de déficit. Haddad promete cumprir a meta neste ano, mas, para o ex-chefe do Bacen, o aumento da dívida nos últimos meses pode comprometer essa promessa.

“Eu acho difícil. À medida que as dívidas estão crescendo, o governo tem que alterar um pouco o padrão de gastos para que isso possa ser obtido mais à frente. O ano que vem será um ano difícil para fazer esse tipo de ajuste de política, como, inclusive, o próprio Lula fez no primeiro mandato, no início do seu governo, em 2003, quando o governo teve um superávit primário.”

“Não estou falando de conseguir sair do negativo para zero. Estamos falando de um superávit primário positivo de mais de 4% do PIB. Então, realmente há uma grande diferença. Isso precisa ser controlado para não seguir esse padrão.”

Assista abaixo à entrevista na íntegra: