Sob um forte esquema de segurança, mais de 12 mil supostos membros de gangues de El Salvador estão detidos em uma megaprisão construída por ordem do presidente Nayib Bukele, símbolo da guerra que iniciou no ano passado contra os grupos de criminosos. O centro penitenciário, considerado o maior da América, completa seis meses entre a luz e a sombra.

Na segunda-feira (21), o comissário de direitos humanos de El Salvador, o colombiano Andrés Guzmán, e a procuradora de direitos humanos, Raquel Caballero, visitaram o Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), em Tecoluca, que fica 74 km ao sudeste de São Salvador.

A prisão com capacidade para 40.000 pessoas começou a receber internos em 24 de fevereiro, e já acumula 12.114 supostos membros de gangues, em sua maioria acusados de pertencer às violentas Mara Salvatrucha e Barrio 18, quem têm origem nas ruas de Los Angeles na década de 1980.

Os pavilhões do presídio têm um teto curvo para garantir a ventilação natural, além de claraboias que permitem a entrada de raios de sol no pátio que separa as celas.

“Aqui estamos perseverando dia após dia, tentando mudar”, diz do interior de uma cela José Hurquilla Bonilla, da gangue Barrio 18.

A prisão foi construída para receber parte dos 70.000 membros de gangues detidos sob o regime de exceção decretado pelo Congresso a pedido de Bukele, em resposta a uma escalada da violência que matou 87 pessoas entre 25 e 27 de março de 2022.

Para a obra, o Estado comprou 166 hectares, 23 deles ocupados por oito pavilhões cercados por um muro de concreto de 11 metros de altura e 2,1 quilômetros de extensão, protegido por cercas elétricas.

– Opiniões diferentes –

Durante a visita ao presídio, o comissário Guzmán perguntou aos internos sobre as condições do presídio e a maioria disse que água “não falta”, mas pediram vassouras e detergente para limpar as celas.

Outros detentos têm opiniões diferentes: alguns disseram que recebem frequentemente creme dental, escovas e sabão, enquanto outros pedem medicamentos para os que sofrem doenças terminais.

Em cada cela de quase 100 metros quadrados permanecem de 60 a 75 detentos que dispõem de beliches, dois vasos sanitários e dois lavatórios com água corrente, além de dois recipientes com água para beber.

“Há muito o que melhorar e todos os dias uma equipe trabalha nisso”, responde aos internos o comissário Guzmán.

Organizações de defesa dos direitos humanos questionam o tratamento nas prisões àqueles que são acusados de pertencer a gangues.

Em um relatório após um ano de regime de exceção, a ONG Cristosal denunciou 174 mortes sob custódia do Estado, e as qualificou como “uma medida permanente de repressão e violações ao direitos humanos”.

Porém, no CECOT, segundo Guzmán, “os internos, dentro dos parâmetros gerais de um centro de detenção, estão em boas condições (e) os direitos humanos são respeitados”.

Após conversar com internos de diferentes celas, a procuradora Raquel Caballero, disse que os detentos se queixaram da alimentação.

“Reclamaram que a comida não é suficiente” e “que estão em ócio, não fazem nada porque ficam trancados”, comentou Caballero à AFP.

A procuradora assegurou que uma equipe médica de 50 pessoas entre enfermeiros e médicos atende aos internos.

Em fevereiro, o CECOT iniciou um regime severo no qual os detentos nunca saíam de suas celas. Também não é permitido receber visitas de familiares.

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