Durante anos, arqueólogos exploraram as selvas da região de Petén, na Guatemala, em busca de vestígios dos maias. Fizeram grandes descobertas, como as ruínas de Tikal, que se tornaram um destino turístico bastante popular. Mas até agora eles haviam apenas começado a compreender o tamanho e a importância dessa civilização. O uso de uma nova tecnologia de detecção a laser mostrou cerca de 60 mil estruturas escondidas sob a vegetação. A descoberta surpreende por colocar os maias no mesmo patamar dos egípcios e dos chineses entre os grandes povos da antiguidade.

A megalópole escondida dos maias
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A tecnologia que permitiu a revelação é chamada Light Detection and Ranging (ou apenas Lidar) e consiste em um feixe de laser que destaca os contornos escondidos sob a vegetação, criando uma espécie de mapa em três dimensões. Ela já foi utilizada em outras pesquisas, principalmente no templo Angkor Wat, no Camboja, mas nunca em uma escala tão grande. Foram mais de dois mil quilômetros quadrados mapeados na região da Reserva da Biosfera Maia, no norte do país.

O resultado pode ser visto no documentário “Tesouros Perdidos dos Maias”, que o canal National Geographic exibe no sábado 17, às 21h. Com imagens deslumbrantes, os exploradores Albert Lin e Francisco Estrada-Belli mostram como o lidar revelou uma civilização muito avançada, no que vem sendo chamado de “o maior avanço em arqueologia maia em 150 anos”.A megalópole escondida dos maias

Foram encontradas estradas, casas, templos, palácios e sistemas de defesa, além de enormes campos agrícolas e sistemas de irrigação. Todas essas estruturas mostram que a população maia pode ter chegado a 10 milhões de pessoas, o dobro do que se acreditava anteriormente. E somente uma civilização altamente desenvolvida poderia manter tanta gente durante tanto tempo. Os maias desenvolveram uma agricultura sustentável e cultivaram até 95% das terras disponíveis em algumas áreas. Drenaram o pântano em alguns locais e criaram um malha rodoviária elevada capaz de ligar áreas de cultivo às cidades, facilitando o transporte e o deslocamento mesmo no período de chuvas.

Nem todas as descobertas são positivas, no entanto. O mapeamento mostrou que saqueadores já fizeram diversas incursões na região em busca de tesouros escondidos, o que fica evidente na quantidade de poços cavados por eles. Além disso, a Guatemala tem perdido gradualmente parte de sua floresta natural. A revelação da importância da região de Petén pode ajudar a fazer com que as pessoas entendam a necessidade da preservação.

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Matemática e astronomia

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EM CAMPO Sítios arqueológicos com vestígios da civilização maia poderão revelar centenas de cidades desconhecidas (Crédito:Divulgação)

A civilização maia se desenvolveu na América Central, espalhada em regiões que hoje fazem parte da Guatemala, México, Belize, El Salvador e Honduras, entre 2000 a.C. e 1697 d.C. O apogeu aconteceu entre os anos 200 e 900, conhecido como o Período Clássico. Eram conhecidos pelo único sistema de escrita desenvolvido pelos povos pré-colombianos, além de grandes feitos nas artes, arquitetura, matemática e astronomia. Eram divididos em cidades-Estado, interligadas por uma rede comercial. Algumas se tornaram muito grandes e poderosas, como Tikal. No período clássico, ocuparam uma área duas vezes maior que a Inglaterra medieval, mas muito mais densamente povoada. A chegada dos conquistadores espanhóis deu início ao declínio da civilização, até que a última cidade, Nojpetén, caiu em 1697.

O mapeamento ajudou a ressignificar a importância da civilização maia, mas foi apenas o primeiro passo. Agora, os pesquisadores precisam retornar à selva guatemalteca para estudar de perto os tesouros que ficaram tanto tempo escondidos, e vão se lançar à tarefa com um novo ânimo. Afinal, não é todo dia que uma única descoberta é capaz de alterar de maneira tão profunda tudo o que se sabia sobre determinado assunto. E ainda há muito por vir. “Há mais de 20 mil quilômetros quadrados para explorar e, com certeza, encontraremos centenas de cidades que ainda não conhecemos”, diz o explorador Francisco Estrada-Belli.