Desde 31 de dezembro de 2020, a metade do prêmio total da Mega da Virada, algo como 160 milhões de reais, dorme tranquilamente nos cofres da Caixa.

Pela regra contratual – sim; quando jogamos há um contrato e concordamos com ele – depois de 120 dias, se o prêmio não for retirado pelo apostador, ele volta para o Estado, que poderá utilizá-lo conforme previsto.

Todos os anos, milhões de reais são “perdidos” pelos apostadores que não reivindicam seus prêmios. Às vezes, os sortudos azarados perdem o comprovante da aposta; às vezes nem se lembram que jogaram; às vezes sofrem acidentes ou morrem.

Como as apostas são “pessoais e intransferíveis”, e em sua maioria absoluta “ao portador”, fica difícil, ou mesmo impossível, para o banco estatal, identificar os apostadores que não aparecem para retirar seus prêmios.

Contudo, a partir do momento em que a Caixa disponibilizou apostas pela internet, em seu próprio sítio na rede mundial de computadores, o que exige um cadastro prévio e pagamento por cartão de crédito, não há mais qualquer dificuldade de identificação do apostador.

No caso em tela, sobretudo em tempos tão fúnebres pela pandemia de coronavírus, o ganhador pode, inclusive, estar internado há meses ou mesmo ter falecido pela maldita Covid. Caso tenha ocorrido algo assim, pode haver herdeiros com direito ao prêmio.

Quando quer, o Estado brasileiro encontra seus devedores, e, mais que isso, invade a conta corrente do cidadão e procede a chamada “penhora on line”, ou seja, retira o saldo em conta até o limite da dívida. Ora, por que, então, não perseguir a entrega do prêmio?

É uma vergonha tal comportamento e mostra bem a relação entre Estado e contribuintes. De um lado, uma máquina que só visa o próprio bolso. De outro, um bando de mulas pagadoras de pesados impostos. Quando é para cobrar, o Estado é eficiente. Quando é para pagar, não. Ou faz cara de paisagem, como neste caso, ou paga através de precatórios. Repito: é uma vergonha.