A decisão do governo de adiar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não teve um embasamento técnico, mas sim foi fruto do temor do presidente Jair Bolsonaro de sofrer uma nova derrota no Congresso.

O presidente tem adotado o discurso de que a pandemia do coronavírus não é justificativa para paralisar atividades no País, como a suspensão de aulas. Pela manhã, a apoiadores, chegou a dizer que era cedo para tomar esta decisão. “Vamos esperar um pouquinho mais, é muito cedo. Nós estamos agora em maio, é novembro (a data das provas). Espera um pouquinho mais para tomar decisão”, afirmou ao deixar o Palácio da Alvorada. A derrota na véspera no Senado e a possibilidade de a Câmara também aprovar o adiamento, a contragosto do governo, o fez mudar de ideia horas depois.

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chegou a iniciar a sessão em que votaria o adiamento. Avisado da iminente derrota na votação por líderes do Centrão, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, publicou pela manhã nas redes sociais uma “sugestão” para que as provas fossem postergadas em até 60 dias. Não foi suficiente para Maia.

“O ministro não, desculpa, não posso acreditar nesse ministro”, afirmou o deputado, já no plenário da Casa, no início da tarde. Ele cobrava do próprio presidente uma sinalização de que o Enem seria adiado. Nem mesmo a nota do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), confirmando o adiamento, demoveu Maia de manter na pauta o projeto, aprovado na véspera pelo Senado.

O anúncio de Bolsonaro, também pelas redes sociais, foi publicado no meio da tarde. “Por causa dos efeitos da pandemia de covid-19 e para que os alunos não sejam prejudicados pela mesma (sic), decidi, juntamente com o Presidente da Câmara dos Deputados, adiar a realização do ENEM 2020, com data ser definida”, escreveu o presidente. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.