Enquanto as restrições impostas às mulheres continuarem no Afeganistão, é “praticamente impossível” que a comunidade internacional reconheça o governo talibã, afirmou nesta quarta-feira (21) a enviada da ONU para o país.

“Nas minhas negociações com as autoridades de fato, sou clara sobre os obstáculos que eles próprios criaram com os decretos e restrições que emitiram, especialmente contra mulheres e jovens”, disse Rosa Otunbayeva, chefe da Missão das Nações Unidas no Afeganistão (UNAMA, sigla em inglês), ao Conselho de Segurança.

“Os talibãs pedem para serem reconhecidos pela ONU e seus membros, mas ao mesmo tempo agem contra os valores fundamentais da Carta das Nações Unidas”, ressaltou a funcionária nascida no Quirguistão.

Por isso, “indicamos a eles que, enquanto esses decretos estiverem em vigor, é praticamente impossível que os membros da comunidade internacional reconheçam seu governo”, acrescentou.

Essas medidas contra as mulheres, que também são “muito impopulares entre a população afegã”, estão “custando aos talibãs legitimidade nacional e internacional, causando sofrimento para metade da população e prejudicando a economia”, acrescentou.

O governo talibã não é oficialmente reconhecido por nenhum país ou organismo multilateral.

Desde seu retorno ao poder em agosto de 2021, os talibãs retomaram a interpretação rigorosa do Islã que marcou seu primeiro governo (1996-2001) e intensificaram as medidas contra as liberdades das mulheres.

O governo proibiu o acesso delas à educação secundária e universitária e as expulsou dos órgãos públicos. Elas só podem trabalhar em ONGs internacionais, embora em setores específicos.

No início de abril, essa proibição foi estendida às funcionárias afegãs da ONU, uma decisão que prejudica as operações humanitárias no país.

Desde então, “não recebemos nenhuma explicação das autoridades de fato sobre essa proibição nem qualquer garantia de que ela será retirada”, disse Otunbayeva.

Para não colocar suas funcionárias em risco, a missão pede que elas não compareçam ao trabalho. E para evitar discriminação, a medida também se aplica aos homens que não desempenham funções “essenciais”.

“Somos firmes: as funcionárias nacionais não serão substituídas por homens, como sugeriram algumas autoridades de fato”, afirmou.

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