22/07/2022 - 16:28
Uma pessoa enferma fragiliza-se no campo emocional – algumas mais, outras menos, mas todas se fragilizam. É assim, nesse natural estado psíquico, que se enxerga no médico a figura de um protetor capaz de restituir a saúde. Espera-se acolhimento.
De um médico também se aguarda dignidade, urbanidade e respeito, até porque esses pontos integram o conjunto de princípios e protocolos com os quais eles se comprometem na conclusão do curso.
Deixe-se, claro, já no início desse artigo, que a esmagadora maioria dos médicos e demais profissionais da saúde agem com lisura, competência, profundos cuidados técnicos e de forma respeitosa em relação àqueles que estão sendo por eles tratados de doenças. E também em atendimentos a outros episódios que, obviamente, não são enfermidades — como gestação e parto, por exemplo.
Até por isso, chama muito a atenção quando alguém que atua na medicina é acusado de comportamentos irregulares, amorais e delinquenciais no exercício da profissão.
Em um Brasil no qual as mulheres seguem sendo criminosamente tratadas em segundo plano em diversos setores da sociedade, faz brotar ainda maior revolta as notícias dando conta de médicos que delas abusam sexualmente e as estupram quando as têm sob seus cuidados: quer seja como parturientes, quer seja como enfermas, quer seja como subordinadas em ambientes de trabalho.
Em um intervalo de poucos dias estouraram dois casos no Brasil a causarem indignação e repulsa. O anestesista Giovanni Quintella Bezerra, que está preso, acabou flagrado pela equipe de enfermagem estuprando uma parturiente em pleno centro cirúrgico. A moça foi apenas mais uma de suas vítimas.
Agora vem a público a acusação de assédio sexual, feita por uma técnica de enfermagem, contra o presidente do Conselho de Medicina do Rio de Janeiro – ele se afastou do cargo, e é isso mesmo que tinha de fazê-lo, para que a questão seja investigada por seus pares, pelo Ministério Público e pela polícia sem que ocorram interferências.
Trata-se do cirurgião ortopédico Clovis Bersot Munhoz. Ele foi indiciado pela polícia no ano passado, mas deu-se ao luxo de não comparecer à delegacia nas duas vezes em que foi intimado.
É urgente que o caso seja esclarecido. É preciso que o Conselho não haja com corporativismo e julgue Munhoz com isenção. Se a Justiça provar sua culpa, ele deve ser condenado conforme estabelecem as leis.
Mulheres têm de ser respeitadas e tratadas com dignidade em toda e qualquer situação. É absurdo, anacrônico e criminoso que em pleno século XXI ainda existam tanta afronta e tanto egocentrismo masculino – leia-se, também, machismo e arrogância por parte dos homens.
Cabe uma indagação: isso sempre aconteceu e não era trazido à luz do dia ou é um fenômeno desses tempos atuais?