Um problema que se estende por anos parece não ter fim em um dos maiores hospitais do País. A Santa Casa de Misericórdia de São Paulo vive uma das piores crises e desde 2015 sofre com a falta de recursos e um déficit que chega a mais de R$ 400 milhões.

Em denúncia exclusiva feita à reportagem da IstoÉ, um dos médicos da instituição, que prefere não ter seu nome divulgado, informou que as internações eletivas (aquelas que não são de emergência) estão suspensas por 60 dias desde segunda-feira (05). Somente o setor de oncologia está funcionando. Além disso, faltam materiais para realizar procedimentos básicos e as seringas estão em quantidade limitada. “Não há gaze no hospital”, afirmou o profissional de saúde.

LEIA MAIS: Por que a Santa Casa não pode morrer 

E não há perspectivas de melhora. Na última sexta-feira (02), foram demitidos cerca de 20 médicos e de acordo com o presidente do sindicato dos médicos de São Paulo, Eder Gatti, a entidade quer pagar menos pelas verbas rescisórias. “Estão querendo fazer acordo para pagar um valor inferior. Estamos orientando os funcionários a procurarem assessoria jurídica do sindicato. Nós vamos estudar o motivo das demissões, vamos estudar para que nenhuma injustiça seja feita com os profissionais”, disse. Há dois meses, o hospital havia solicitado aos médicos a redução voluntária da carga horária de trabalho. Alguns funcionários aderiram à jornada reduzida, mas não foram poupados das demissões.

Falta de transparência

Os funcionários alegam falta de diálogo entre o novo provedor e os médicos. O advogado Antônio Penteado Mendonça assumiu o cargo em abril de 2017. Na época, a entidade tinha uma dívida de R$ 700 milhões deixada pela antiga e polêmica gestão de Kalil Rocha Abdalla, apontado com um dos principais responsáveis pelo rombo na conta do hospital. No final de 2016, a Santa Casa recebeu um empréstimo da Caixa Econômica Federal de R$ 360 milhões.

De acordo com a denúncia, as demissões não foram sinalizadas e não há nenhum tipo de informação sobre atual situação da instituição. “Foram todos pegos de surpresa”, contou o médico.

Questionada pela reportagem, a Santa Casa informou por meio de nota que está apenas com uma readequação de fluxo de gestão de pessoas e resultados e que está atendendo a população de acordo com a capacidade do hospital.

A entidade foi fundada em 1884 e é administrada pela iniciativa privada, mas não tem fins lucrativos. São feitos mais de 10 mil atendimentos por dia e mais de 2 mil médicos trabalham no hospital.