O trabalho do médico da seleção brasileira de futebol, Paulo Godoi, de rebater o mito do gordo saudável, fundamentalmente, não está baseado na busca estética por padronização.
Longe disso. Aliás, segundo o profissional, que se especializou em Medicina da Obesidade na Universidade de Harvard, esse olhar que friamente padroniza o que é feio e o que é bonito atrapalha – e muito – seu trabalho.
“É impressionante a quantidade de
pacientes que recebo com a autoestima baixíssima e sem a mínima motivação para se cuidar visando a própria saúde”, adianta ele, em entrevista à IstoÉ.
Nesse contexto de uma padronização estética superficial e cruel, ou, pior que isso, de uma latente gordofobia, ele tem acompanhado movimentos, como o body positive (positividade corporal, em tradução livre) buscando dar representatividade a vários estereótipos corporais e mostrar a
beleza da heterogeneidade humana.
“É muito justo, mas, como meu trabalho não está pautado em discussões estéticas, mas, sim, na busca pela saúde através da prevenção de doenças e melhora na qualidade de vida, tenho que ponderar os riscos de se criar um mito de gordo saudável”, alerta.
Para isso, ele relembra um estudo de 2017, divulgado no Congresso Europeu sobre Obesidade, realizado na cidade de Porto, em Portugal.
A pesquisa da Universidade de Birmingham identificou que, mesmo os obesos metabolicamente saudáveis (que não apresentavam pressão alta, diabetes e dislipidemia), estavam, sim, mais suscetíveis a ter problemas cardíacos e acidentes vasculares cerebrais no fim da vida do que pessoas com IMC adequado.
Segundo destaca Godoi, a pesquisa foi robusta (avaliou mais de 3 milhões de indivíduos durante 10 anos) e concluiu: a existência de obesos saudáveis é um mito.
“Então, precisamos parar de rotular quem está acima do peso como sedentário e preguiçoso. Mesmo porque, existem muitos magros não saudáveis, com colesterol alto e etc. Mas, também, não podemos defender a gordura, travestidos de uma áurea de benevolência, pois a obesidade é, sim, fator de risco para inúmeras doenças”, acrescenta.
Portanto, a baixa autoestima, para o especialista, não pode surgir do não encaixe a um formato corporal socialmente aceito. Por outro lado, o excesso de autoestima não precisa cegar a necessidade de melhoria com vistas na própria saúde e longevidade.
“Não se compare com os outros, preocupe-se com você. O verdadeiro amor próprio nos move para o nosso próprio bem”, conclui.