Médico da seita Colonia Dignidad, no Chile, cumprirá sua pena na Alemanha

O médico da seita Colonia Dignidad, fundada no Chile por um nazista, cumprirá sua pena de cinco anos e um dia de prisão na Alemanha, decretada pela justiça chilena a partir de acusações de pedofilia, comunicou nesta segunda-feira (14) um tribunal alemão.

O tribunal de grande instância de Krefeld julgou como “admissíveis” as decisões tomadas pela justiça chilena entre 2004 e 2013 contra Hartmunt Hopp, e decidiu que estas serão aplicadas na Alemanha, de acordo com um comunicado.

O acusado, septuagenário, pode recorrer dessa decisão da justiça como sendo não passível de execução, segundo o comunicado.

O seu advogado disse à agência de notícias alemã DPA que apelará da sentença.

A ONG Centro Europeu para os Direitos Humanos e Constituições elogiou a decisão do tribunal, inédita e esperada há tempos para impor penas pelos “crimes da Colonia Dignidad, principalmente quanto aos estupros e abusos sexuais praticados a crianças”.

A justiça chilena condenou o alemão, refugiado em 2011 em seu país natal, a uma pena de cinco anos e um dia de prisão pelo estupro de quatro crianças menores de 12 anos, além de abusos sexuais a outros 16 menores.

Hartmut Hopp era o braço direito do enfermeiro do exército nazista Paul Schäfer, fundador da “colônia da dignidade” em 1961, que era apresentada como uma comunidade familiar idílica localizada ao sul de Santiago do Chile, onde exercia como predicador, lugar que durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) foi utilizado para torturar opositores, que também sofriam abusos sexuais.

Schäfer comandou com brutalidade essa comunidade alemã de algumas centenas de pessoas, submetendo-as a severas regras de conduta que chegavam à escravidão, multiplicando o número de casos de abusos sexuais às crianças.

Detido em 2005, Paul Schäfer faleceu na prisão em 2010. Manteve uma amizade com Pinochet, e um grande número de opositores seus foram torturados ou desapareceram na Colonia Dignidad.

Durante uma viagem ao Chile no ano passado, o ex-presidente alemão Joachim Gauck relatou as atrocidades conhecidas por essa seita. Muitas outras vítimas ainda lutam por uma indenização.

A Alemanha admitiu ter fechado os olhos para o que acontecia nesta comunidade.