Inteligência artificial e análise de dados são algumas das técnicas usadas para auxiliar casais no planejamento reprodutivo ou identificar anomalias durante a gestação

 

Por Cristiane Santos, da Agência Einstein

Abordagem que usa informações genéticas e análise de dados para prever doenças e oferecer tratamento personalizado, a medicina de precisão vem sendo cada vez mais utilizada antes e durante a gestação para predizer o risco de doenças nos bebês segundo o DNA familiar, diagnosticar alterações genéticas nos fetos e até salvar a vida de crianças com problemas no crescimento intrauterino.

A investigação do DNA do feto pode ser ferramenta importante para a definição de um prognóstico médico – que é a avaliação de como essa alteração pode interferir na saúde da criança e das possibilidades terapêuticas a partir daí. Já a análise de dados utiliza recursos como inteligência artificial para a criação de modelos preditivos, permitindo que as equipes médicas tomem decisões mais assertivas para preservar a vida das gestantes e dos fetos.

“A medicina de precisão é importante para determinar um diagnóstico e ter um caminho bem delineado em termos de acompanhamento médico do paciente e aconselhamento da família, uma vez que ela precisa estar preparada para os possíveis cenários”, explica a médica geneticista Mirlene Cernach, professora titular da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes).

Entre as alterações genéticas que a medicina de precisão ajuda a diagnosticar precocemente está a síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21). Também podem ser identificadas alterações nos cromossomos 13, 18, X e Y.  “Estes são os cromossomos mais acometidos por trissomias (presença de três cromossomos em vez de dois). As alterações nos cromossomos 13 (Síndrome de Patau) e 18 (Síndrome de Edwards) resultam em quadros mais graves no desenvolvimento do feto, que podem levar ao aborto espontâneo, problemas cardíacos ou malformações sérias”, explica a médica.

O acompanhamento da gestação com o pré-natal e a realização de exames de imagem – ultrassom – são passos importantes para a identificação da necessidade do uso da medicina de precisão.

“Em muitos casos, o ultrassom, principalmente o morfológico, dá aos médicos indicativos da necessidade de exames genéticos ou do uso de análise de dados. Um deles é o desenvolvimento do feto na barriga da mãe. Histórico familiar de doenças genéticas ou outro fator de risco na gestante, como idade acima dos 35 anos ou alguma malformação gestacional anterior, também são indicativos para uso da medicina de precisão”, diz Mirlene.

Dentro dessa abordagem médica, o uso da análise de dados e da inteligência artificial pode salvar a vida de bebês em casos de restrição de crescimento fetal intrauterino, quadro que ocorre entre 7% e 15% das gestações e é a segunda principal causa de mortes de bebês durante a gravidez. O problema é causado principalmente pela dificuldade de passagem de nutrientes e oxigênio através da placenta para o feto, chamada de insuficiência vascular uteroplacentária.

Um estudo realizado por pesquisadores do Hospital Israelita Albert Einstein a partir da análise de informações de 28 mil gestações e partos realizados na última década pela instituição ajuda a identificar o momento em que o crescimento do feto começa a ser prejudicado. “Com o uso da inteligência artificial, conseguimos criar um modelo matemático que nos diz se a paciente está bem ou se é necessário antecipar o parto para evitar o sofrimento agudo do feto e até a sua morte”, explica Linus Pauling Fascina, gerente médico da área materno-infantil do Einstein e um dos autores da pesquisa.

O estudo foi apresentado no 1º Simpósio Internacional de Medicina de Precisão, promovido pelo Einstein nos dias 8 e 9 de outubro, e utiliza como base de dados as imagens de ultrassom das 28 mil gestações e seus desfechos para predizer a possibilidade de um cenário de interrupção de fluxo de transporte de nutrientes ocorrer em uma gestação atual.

Além disso, o cruzamento das informações, via inteligência artificial, permite prever qual o resultado de cada tipo intervenção médica: em que casos é possível pensar em soluções que melhoram o fluxo de chegada do alimento ao feto e quando é mais seguro – para a mãe e para o bebê – optar por um parto prematuro.

“O mais importante não é o motivo pelo qual o feto está com retardo no crescimento intrauterino e sim a identificação do melhor momento para uma intervenção médica de forma personalizada. A análise de dados nos permite comparar as informações de uma gestação com milhares de outros casos similares, com redução de chances de sofrimento do feto e do número de mortes por esta causa”, continua o médico.

Estudos como este, explica o especialista, têm grande potencial para serem reproduzidos também em instituições de saúde da rede pública. “É replicável, confiável e permite incremento de informações constante”, conclui.

(Fonte: Agência Einstein)

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