Numa época em que a temperatura (extrema) é um assunto que vai muito além das conversas de elevador, um debate volta e meia aparece: até onde é possível confiar nos termômetros espalhados pelas vias urbanas? Isso porque não é raro nos depararmos com equipamentos que apresentam temperaturas distintas, seja entre relógios digitais separados por poucas quadras de distância, seja pela medição oficial, divulgada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

O Estadão conversou com o professor Fernando Lang da Silveira, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ele explicou como operam esses equipamentos, e isso já ajuda a responder.

“As medidas de temperatura do ar são feitas por estações meteorológicas, como as do Inmet, que fornecem os dados oficiais. Essas medidas obedecem a uma série de critérios usados universalmente”, explica Lang. Ele ressalta que, para isso, não basta ter bons termômetros devidamente calibrados. “Como o objetivo é medir a temperatura do ar, os termômetros devem estar em um abrigo meteorológico”, diz o professor da UFRGS. Esses abrigos, em geral, são de cor branca, “para minimizar a absorção de energia térmica”.

Eles também são instalados a cerca de 1,5 metro de altura do solo e têm venezianas, o que permite a circulação natural do ar para o seu interior, onde ficam os equipamentos de medição. Tudo isso, como se pode observar, é bem diferente do que vemos nos termômetros de rua.

Segundo o professor Lang da Silveira, os equipamentos de rua contam com um sensor de temperatura do tipo termopar, “no qual a medida da temperatura é consequente de um sinal elétrico oriundo do sensor”, explica. E faz a ressalva: os sensores são precisos, mas a temperatura que eles captam é a do próprio sensor. “Nas estações meteorológicas, os termômetros se encontram em um abrigo especial, que tem o objetivo de garantir que a temperatura registrada seja a mais próxima possível da temperatura do ar atmosférico.”

“Dois relógios digitais próximos podem fornecer medidas de temperatura muito diferentes. É fácil imaginar que se um estiver na sombra e o outro sob radiação solar direta, – ou se um estiver em local mais ventilado do que o outro -, registrarão diferentes temperaturas”, afirma Lang.

Resumindo, sensores de rua captam “uma temperatura ‘real’, mas que pelas razões postas anteriormente não é uma medida fidedigna da temperatura do ar atmosférico”, diz. “Já as estimativas de sensação térmica envolvem outros fatores além da temperatura, tais como umidade relativa e velocidade do vento.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.