O Hospital Nossa Senhora Aparecida, de Camaquã (RS), a 130 km de Porto Alegre, solicitou ao Ministério Público estadual e ao Conselho Recional de Medicina (Cremers), nesta segunda-feira (22), que investiguem a conduta profissional da médica Eliane Scherer por ter utilizado um procedimento experimental sem comprovação científica em pacientes da emergência. As informações são da Folha.
Eliane, que atuava como intensivista na instituição até semana passada, utilizou hidroxicloroquina inalável em pacientes para combater a Covid-19, que não possui eficácia comprovada cientificamente. O medicamento era diluído em soro fisiológico e aplicado sob a forma de nebulização.
De acordo com a reportagem, a assessoria jurídica do hospital informou que Eliane “descumpria protocolos [de segurança] de forma contumaz”, e por isso foi desligada do corpo de profissionais que atendem a instituição.
O procedimento que ela utilizava não tem aval de protocolos de saúde nem do hospital e nem do fabricante do produto, colocando em risco a segurança dos pacientes.
Eliane era contratada da Promed, empresa que intermedeia serviços médicos em clínicas e hospitais, e atuava no local desde março de 2020. Ainda de acordo com a Folha, por seu contrato, ela deveria atuar apenas no serviço de pronto-socorro do hospital, mas estava aplicando nebulização de hidroxicloroquina em pacientes internados na UTI e nos leitos clínicos. A médica não possuía autorização para frequentar ou atuar nesses ambientes.
Segundo a reportagem, enfermeiros e auxiliares de enfermagem relataram terem sido pressionados pela médica para aplicar as nebulizações com hidroxicloroquina em pacientes.
O caso veio à tona depois que um vereador de Dom Feliciano, a 45 km de Camaquã, disse ter se curado da Covid-19 após a médica utilizar o método nele. Dalvi Soares de Freitas (PSB) disse que estava com metade do pulmão comprometido, mas que melhorou após inalar a solução de cloroquina com soro fisiológico aplicada pela própria média, após recusa dos integrantes da equipe do hospital.
Na quinta-feira (18), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) exaltou o tratamento experimental em sua live semanal e, no dia seguinte, em uma fala na rádio local, criticou o hospital por ter pedido o desligamento da médica.
“Os médicos têm o direito, ou o dever, no momento em que falta medicamento específico para aquilo, com comprovação científica, ele pode usar o que chama de off label, fora da bula. Mas no Brasil virou um tabu, praticamente é criminoso quem fala disso”, disse Bolsonaro.