Acordo foi confirmado por Hamas e mediadores de EUA, Catar e Egito, mas Israel ainda não se pronunciou. Texto prevê que o Hamas liberte 33 reféns nas próximas semanas, em troca de mil palestinos presos em Israel.Israel e Hamas chegaram a um acordo de cessar-fogo para encerrar o conflito na Faixa de Gaza após 15 meses de combates no enclave palestino, segundo anunciaram mediadores nesta quarta-feira (15/01).
O Hamas, grupo palestino dominante em Gaza, disse à agência de notícias Reuters que sua delegação havia dado aos mediadores sua aprovação final para o acordo de cessar-fogo e retorno dos reféns.
Oficiais americanos, do Catar e do Egito também confirmaram que as negociações haviam sido concluídas. Em nota, o gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu afirmou que ainda há cláusulas do acordo não resolvidas, mas espera que os detalhes sejam finalizados ainda nesta quarta-feira.
O que diz o acordo
O texto descreve uma fase inicial de cessar-fogo de seis semanas e inclui a retirada gradual das forças israelenses de Gaza e a liberação de reféns mantidos pelo Hamas em troca de prisioneiros palestinos detidos por Israel.
Ao menos 98 reféns permanecem em Gaza, de acordo com as autoridades israelenses. Eles incluem israelenses e estrangeiros, civis e soldados, homens, mulheres, duas crianças e idosos. Acredita-se que cerca de metade deles esteja viva.
A primeira fase envolve a libertação de 33 destes reféns israelenses, incluindo todas as mulheres, crianças e homens com mais de 50 anos. O Hamas deve libertar três refens por semana até o final da sexta semana, quando os demais também serão libertados.
Já Israel libertará 30 presos palestinos para cada refém civil e 50 presos palestinos para cada soldado israelense libertado pelo Hamas.
Mulheres, crianças e adolescentes palestinos menores de 19 anos detidas por Israel desde 7 de outubro de 2023 terão prioridade e devem ser libertados até o final da primeira fase.
Com isso, o número total de detidos palestinos que poderão retornar a Gaza pode ficar entre 990 e 1.650.
O texto também obriga que 600 caminhões carregando materiais de ajuda humanitária, como medicamentos e alimentos, possam entrar em Gaza diariamente, sendo que 50 deles poderão carregar combustíveis.
Mesmo que Israel e Hamas cumpram sua parte do acordo, novas negociações serão necessárias para a implementação de outras etapas para o encerramento definitivo do conflito.
As conversas sobre a execução da segunda fase, por exemplo, começarão até o 16º dia a partir da data de início do cessar-fogo, que ainda não está definida. Esta etapa deve incluir a libertação de todos os reféns restantes, um cessar-fogo permanente e a retirada completa das forças israelenses de Gaza.
Na terceira fase, Hamas e Israel devem permitir o retorno dos corpos de soldados e civis mortos e iniciar a reconstrução de Gaza, que será supervisionada pelo Egito, Catar, Estados Unidos e pela ONU.
O acordo também deve permitir que milhares de pessoas deslocadas em Gaza retornem às suas cidades de origem, grande parte destruídas pelo conflito.
Conflito deixou milhares de mortos
As tropas israelenses invadiram Gaza após o Hamas promover um ataque terrorista contra comunidades em Israel em 7 de outubro de 2023, matando 1.200 soldados e civis e sequestrando mais de 250 reféns israelenses e estrangeiros.
Já a campanha militar de Israel em Gaza matou mais de 46.000 pessoas, segundo dados do ministério da saúde de Gaza, controlado pelo Hamas, deixando a região costeira em ruínas e deslocando a maior parte da população do enclave, de 2,3 milhões de pessoas.
O conflito se espalhou pelo Oriente Médio, com grupos apoiados pelo Irã no Líbano, Iraque e Iêmen atacando Israel em solidariedade com os palestinos.
O acordo ocorre após Israel matar os principais líderes do Hamase do Hezbollah, do Líbano, em assassinatos que lhe deram vantagem estratégica.
Negociações
O cessar-fogo foi concluído após meses de negociações mediadas por Egito e Catar, com o apoio dos Estados Unidos, e ocorre pouco antes da posse de Donald Trump, presidente eleito dos EUA, em 20 de janeiro.
À medida que sua posse se aproximava, Trump repetiu exigências para que um acordo fosse feito rapidamente, alertando que haveria "consequências terríveis" se os reféns não fossem libertados. Seu enviado para o Oriente Médio, Steve Witkoff, trabalhou com a equipe do presidente americano Joe Biden para concretizar o acordo.
"Temos um acordo para os reféns no Oriente Médio. Eles serão libertados em breve. Obrigado!", escreveu Trump nas redes sociais nesta quarta-feira.
O texto ainda precisa ser aprovado pelo gabinete do primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, mas espera-se que entre em vigor nos próximos dias.
as/bl/gq (AFP, Lusa, Efe, Reuters, AP)