Passava das dez e meia da noite da quarta-feira 3 quando os nadadores Bruno Fratus e Marcelo Chierighini, candidatos a medalha nas provas de velocidade, estavam parados em um ponto de ônibus dentro do Parque Olímpico. Eles tinham acabado de treinar no Centro de Esportes Aquáticos e demonstravam pressa para ir embora. Como fazia menos de 20 graus, algo raro para os cariocas, vestiam o uniforme completo da seleção, inclusive o casaco verde com tons amarelos. “Por ser o Rio, está um pouco mais frio do que de costume”, disse Fratus, enquanto tentava se livrar da reportagem da ISTOÉ. Um dos cinco melhores do mundo nos 50m livre, Fratus tinha sido orientado pelos chefes da delegação a evitar entrevistas antes das competições. O chamado “Time Brasil”, termo criado pelo COB, isolou seus representantes mais ilustres para evitar que eles se expusessem demais. Mas a cena prosaica, com dois dos principais nadadores do País num ponto de ônibus gelado e sem proteção contra chuva, não escondia o fato de que eles estão sob tremenda pressão. Fratus carrega nos ombros o peso de suceder César Cielo, campeão olímpico e medalhista de bronze nos 50m livre. Chierighini é um dos pilares do 4x100m brasileiro, que rivaliza por um lugar no pódio com Austrália, Estados Unidos e França. O que eles esperam das competições? “A arena vai fazer bastante barulho”, diz um lacônico Fratus, minutos antes de o coletivo chegar.

Projeto top ten

PERFORMANCE Arthur Nory, da seleção masculina, um dos ginastas mais completos do Brasil, treina no Rio
PERFORMANCE Arthur Nory, da seleção masculina, um dos ginastas mais completos do Brasil, treina no Rio

Mal começou a Olimpíada e o Brasil já saberá se a meta definida pelo COB para os Jogos do Rio será alcançada. Depois de um ciclo de investimentos que totalizou mais de R$ 3 bilhões, o objetivo agora é colocar o País entre os 10 primeiros colocados no quadro de medalhas, o que seria a melhor posição da história para uma nação acostumada a dar atenção apenas para o futebol. Para que isso aconteça, os brasileiros precisam brilhar na primeira semana de competições. Ela concentra os esportes em que o País tem mais chances. O judô, que estreia no sábado 6 e que em Londres-2012 angariou um ouro e dois bronzes, quer superar no Rio o desempenho de quatro anos atrás. “Nossa meta é realista, porque não quisemos colocar pressão excessiva nos atletas”, diz Ney Wilson, gestor de alto rendimento da Confederação Brasileira de Judô. A natação, embora desfalcada de Cielo, também deve municiar o quadro de medalhas com bons resultados. Além de Fratus, nomes como Brandonn Almeida, que nada bem os quatro estilos, e Thiago Pereira, maior medalhista brasileiro na história dos Jogos Panamericanos, apontarão os caminhos para as ambições nacionais já nos próximos dias.

FOCO Um dos cinco melhores do mundo nos 50m livre, o brasileiro Bruno Fratus treina no Centro de Esportes Aquáticos
FOCO Um dos cinco melhores do mundo nos 50m livre, o brasileiro Bruno Fratus treina no Centro de Esportes Aquáticos

A estratégia de esconder as maiores esperanças de medalhas foi adotada por diversas modalidades. Na quarta-feira 3, a seleção masculina de ginástica treinou ao som de “Al Capone” e “Let me Sing”, do maluco beleza Raul Seixas, e todos os atletas pareciam relaxados. A exceção era Arthur Zanetti, campeão olímpico nas argolas em Londres-2012. Zanetti saiu do ginásio amuado e não quis falar com ninguém. A ginástica entra em cena no Rio também no dia 6 de agosto, nas provas classificatórias para os seis aparelhos. “Sabemos que é uma responsabilidade competir em casa, mas a torcida mais ajuda do que atrapalha”, diz Arthur Nory, talvez o ginasta mais completo do Brasil (embora ele não seja espetacular em um aparelho específico, como Zanetti é nas argolas, faz bem todos os movimentos).

Natação e judô são esportes que tradicionalmente faturam medalhas para o Brasil, e a ginástica deu sua valiosa cota com o ouro de Zanetti em Londres. Na Rio-2016, a diversificação de pódios deverá ser maior, graças ao bom trabalho executado pelo Comitê Olímpico Brasileiro, que há 7 anos lançou um programa de detecção de talentos que se revelou eficiente. Um desses é o carioca Marcus Vinícius D´Almeida, arqueiro de apenas 18 anos que tem no currículo um vice-campeonato da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos da Juventude. O garoto tem boas chances de chegar ao pódio, desde que repita as suas melhores marcas. Se ele chegar lá, será a primeira medalha olímpica brasileira da história do tiro com arco. Ainda mais candidato ao pódio é o paulista Felipe Wu, de 24 anos, que chegou a liderar o ranking mundial do tiro esportivo na modalidade pistola de ar 10m. Como Marcus Vinícius, Felipe definirá seu futuro no esporte brasileiro nos próximos dias. No Rio, eles terão uma chance única de fazer história.

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A primeira frustração

Rodrigo Cardoso

A torcida brasileira mais uma vez tinha armado uma festa para a Seleção. Na estreia do time na Olimpíada Rio-2016, na quinta-feira 4, alegria, empolgação e uma boa dose de fé preenchiam as arquibancadas do estádio Mané Garrincha, em Brasília (DF). Ali, 55 mil torcedores aguardavam o show de um Brasil com três atacantes – um deles já consagrado, Neymar, e duas jovens promessas, Gabriel Jesus e Gabriel Barboza, o Gabigol. A frustração veio na mesma proporção da expectativa. Neymar negou fogo e o Brasil não saiu do empate por 0 x 0. Com três medalhas de prata (1984, 1988 e 2012) e dois bronzes (1996 e 2008) em Jogos Olímpicos, o Brasil demonstrou que falta muito para merecer o almejado ouro inédito. Se deseja acabar com a sina de nunca ter vencido uma Olimpíada, o futebol masculino precisa aproveitar a chance da Rio-2016. A vantagem é óbvia: craques como Lionel Messi (Argentina), Cristiano Ronaldo (Portugal) e Zlatan Ibrahimovic (Suécia) estão fora por vontade própria. Melhor ainda: a Alemanha não mandou as estrelas do 7 a 1.