A consultoria McKinsey & Company buscou promover, em uma das reuniões preparatórias para a COP28, projetos de créditos de carbono, uma ferramenta criticada, mas cobiçada pelos seus clientes ligados aos combustíveis fósseis para compensar suas emissões de carbono, segundo documentos internos e fontes consultadas pela AFP.

Os documentos vazados mostram que a empresa, que assessora grandes empresas de gás e petróleo, da americana ExxonMobil à estatal saudita Aramco, trabalhou nos bastidores para influenciar na agenda da Cúpula Africana sobre o Clima , celebrada em setembro no Quênia. A reunião serviu de preparação para a COP28 em Dubai.

Um documento confidencial de nove páginas, ao qual a AFP teve acesso, promove a Iniciativa dos Mercados de Carbono na África (ACMI), que a McKinsey declarou publicamente que ajudou a desenvolver, e defende a criação de um mercado de seis bilhões de dólares (29 bilhões de reais) para créditos de carbono no continente africano.

Os créditos de carbono são apresentados como uma alternativa para que grandes poluentes, como as petroleiras, compensem suas emissões de CO2 apoiando projetos verdes, por exemplo de preservação de florestas. Muitos especialistas questionam se a prática realmente serve para combater o aquecimento global e a consideram uma lavagem de imagem.

Mais de 500 associações da sociedade civil assinaram uma carta enviada ao presidente do Quênia, William Ruto, antes da cúpula advertindo que a McKinsey “influenciou de maneira indevida” a cúpula com documentos-chaves que redigiu em nome do país anfitrião.

“Quando a McKinsey se envolveu no planejamento da cúpula, buscou se beneficiar dos acordos comerciais que surgiram”, disse Mohamed Adow, diretor do grupo de pesquisa Power Shift Africa.

Adow é um dos vários assessores africanos e de outros países provenientes de grupos de estudo, fundações e organizações internacionais, que solicitaram aos organizadores que revisassem o “documento de posição” para elaborar a agenda da reunião.

Ele indicou que a McKinsey teve um papel predominante na redação do documento, duramente criticado por vários assessores por superdimensionar o papel dos mercados de carbono, segundo comentários compartilhados com a AFP.

A McKinsey negou qualquer erro de sua parte, e a ministra do Meio Ambiente do Quênia, Soipan Tuya, insistiu que está “extremamente longe da verdade” dizer que a empresa teve tanto peso na cúpula.

A McKinsey disse à AFP que foi um “parceiro técnico” da cúpula, um dos muitos consultores que apoiaram os preparativos e que todos os documentos foram “aprovados pela Cúpula Africana sobre o Clima e pelo governo do Quênia”.

Uma busca no histórico da internet mostra que a menção de que a empresa foi parceira do evento foi removida. A McKinsey declarou que foi citada por engano.

Dois membros do grupo de assessores formado a pedido do presidente do Quênia, que pediram para não serem identificados, comentaram que desconheciam o papel da McKinsey.

“Dada a lista de clientes, a McKinsey tinha um conflito de interesses que é inegável”, afirmou Adow à AFP.

Os dois especialistas do grupo de assessores de Ruto indicaram que o documento difere das posições estabelecidas pelo Grupo Africano de 54 países e que ignorou as grandes prioridades da região, como os fundos para ajudar as economias africanas a enfrentar o impacto climático.

A McKinsey apontou que os documentos “eram para uso do presidente do Quênia e refletiam suas metas, não as da McKinsey”.

No final, durante a cúpula, foram apresentadas promessas de investimentos de centenas de milhões de dólares em projetos, incluindo 450 milhões de dólares (2,2 bilhões de reais) dos Emirados Árabes Unidos, o anfitrião da COP28, que busca garantir extensões de terra na África para desenvolver projetos de compensação de carbono.

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