A primeira-ministra britânica, Theresa May, disse nesta quarta-feira (17) que “agora é a hora” de se alcançar um acordo de divórcio com a União Europeia (UE), mas autoridades afirmaram que ela não conseguiu oferecer novas propostas para solucionar o impasse crucial na cúpula em Bruxelas.

May apresentou sua visão de como salvar as negociações com os líderes europeus, frustrados por uma interrupção dramática das negociações no domingo, meses antes da data prevista para o Brexit, em 29 de março.

Antonio Tajani, presidente do Parlamento Europeu que ouviu o discurso, disse que May não lhes ofereceu “nada de substancialmente novo” para discutir quando ela se retirou para eles jantarem sem ela.

Mas ele disse que ela “não é contra” a ideia de aceitar uma extensão de um ano no período de transição após o Brexit para tirar o calor da questão mais polêmica – o destino da fronteira irlandesa.

“Sinto uma vontade política de avançar”, disse ele.

Vários líderes já haviam indicado que não têm esperanças de um avanço nesta semana.

– ‘Agora é a hora’ –

As negociações estagnaram diante da questão da fronteira da Irlanda.

“Trabalhando intensamente e de perto, podemos alcançar este acordo (…) Agora é a hora de fazer isso acontecer”, afirmou May à imprensa na chegada a Bruxelas, expressando sua intenção de destacar aos seus sócios os “bons avanços” das últimas semanas.

O Reino Unido sai em 29 de março e a União Europeia definiu em vão esta cúpula desta semana como o momento definitivo para constatar o progresso de um acordo que o Parlamento Europeu e o Parlamento britânico possam ratificar a tempo.

Contudo, o negociador europeu para o Brexit, o francês Michel Barnier, garantiu que ainda é preciso “tempo, muito mais tempo” para alcançar um acordo “adequado para todos e para todos os problemas, inclusive a questão da Irlanda”.

Na terça-feira, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk pediu à primeira-ministra britânica, que enfrenta uma pressão interna da ala eurocética do seu partido, para apresentar novas “propostas concretas” para desbloquear as negociações.

“May deve nos dizer o que pode ser aceito dados os equilíbrios políticos”, afirmou o presidente francês, Emmanuel Macron, para quem a UE e o Reino Unido não estão “tão longe” de um acordo final sobre o Brexit.

As duas partes querem afastar a ideia de um Brexit sem acordo, que poderia ter impacto negativo em suas economias, segundo Fundo Monetário Internacional. Ambas as partes também são preparadas, contudo, para a possibilidade de uma ruptura sem acordo final.

– Transição mais longa? –

Os britânicos devem interromper mais de quatro décadas de adesão ao projeto europeu em março. Até então, ambas as partes devem finalizar um acordo de divórcio, outro sobre o período de transição e uma declaração política legalmente não vinculativa sobre o futuro relacionamento.

A questão de como impedir a introdução de uma fronteira clássica entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda – preservando o acordo de paz da Sexta-feira Santa de 1998 – ainda é o principal impasse na negociação.

A solução para o atual entrave nas negociações poderia ser estender o período de transição acordado com o Reino Unido a partir do divórcio de março do ano que vem para 31 de dezembro de 2021.

O primeiro ministro irlandês, Leo Varadkar, defendeu uma extensão, para dar tempo para negociar e ratificar um novo acordo com o Reino Unido “cobrindo tudo, da economia ao comércio e segurança”, embora tenha dito que o prolongamento “não pode ser uma alternativa para o ‘backstop’ para a Irlanda”.

Fontes diplomáticas europeias apontaram que prolongar o período de transição não está formalmente “na mesa” dos negociadores e, um deles, assegurou que poderia “representar um problema político” para Londres, já que deveria respeitar por algum tempo algumas regras europeias sem direito de decisão.