SÃO PAULO, 8 AGO (ANSA) – Por Lucas Rizzi – O ex-ministro e ex-embaixador Andrea Matarazzo será candidato a senador na Itália nas eleições antecipadas de 25 de setembro.   

Com dupla cidadania, o político e industrial de 65 anos vai disputar a única vaga no Senado da República destinada à circunscrição da América do Sul.   

Matarazzo será candidato pelo Partido Socialista Italiano (PSI), em uma coligação com o Partido Democrático (PD), principal força de centro-esquerda no país europeu.   

“O PSI escolheu Andrea Matarazzo por sua reconhecida competência e experiência política e institucional”, afirmou à ANSA o deputado ítalo-brasileiro pelo PSI Fausto Longo, que não disputará a reeleição.   

Matarazzo já havia tentado se candidatar nas eleições de 2018, porém acabou impedido por uma norma que proíbe a candidatura de cidadãos residentes no exterior e que tenham ocupado cargos públicos no país de residência nos cinco anos anteriores – ele foi vereador em São Paulo até janeiro de 2017.   

Com passagens por PSDB e PSD, Matarazzo também já exerceu as funções de ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, embaixador do Brasil em Roma, secretário estadual de Energia e de Cultura em São Paulo e secretário municipal de Serviços e de Subprefeituras na capital paulista.   

Em 2020, se candidatou a prefeito de São Paulo e ficou em oitavo lugar, com 1,55% dos votos. “É importante participar para posicionar o Brasil bem e conseguir ter parlamentares qualificados e com experiência. É uma forma de o Brasil se fazer presente e mostrar como ele é”, disse Matarazzo em entrevista exclusiva à ANSA.   

No entanto, apesar da notoriedade alcançada em seus anos na vida pública brasileira, Matarazzo não terá vida fácil para chegar ao Senado. Até 2018, as eleições parlamentares italianas destinavam quatro vagas na Câmara e duas no Senado para a América do Sul, mas uma reforma aprovada em 2020 reduziu esses números pela metade.   

Desde que a Itália elege representantes no exterior, em 2006, o candidato mais votado para o Senado na América do Sul sempre foi ligado à Argentina, onde o colégio eleitoral (cerca de 770 mil eleitores) é muito mais numeroso que no Brasil (cerca de 430 mil).   

Agora, com apenas uma vaga disponível no Senado, Matarazzo precisará de um resultado nunca obtido por um ítalo-brasileiro para ser eleito, e em um cenário de abstenção historicamente baixa.   

“Só 30% de quem tem direito vota, ou seja, 70% dos brasileiros com cidadania italiana estão abrindo mão da sua cidadania. É um esforço conseguir a cidadania, fazer todo o processo, aí você consegue e esquece? Tem que votar. Quanto melhor estiver a Itália, melhor para todos nós”, afirmou.   

Segundo ele, não se trata de fazer uma campanha “bairrista”, mas sim de “mostrar a importância da América do Sul e o quanto a representação no Parlamento é fundamental”. “Meu interesse é fazer com que essa relação Brasil-Itália beneficie cada vez mais os italianos que estão pelo mundo e favoreça os italianos da Itália com as vantagens que a América do Sul pode levar a eles”, acrescentou.   

Se for eleito, Matarazzo promete trabalhar por legislações que desburocratizem o funcionamento consular – uma demanda antiga dos italianos no Brasil – e para promover oportunidades de estudo, trabalho e empreendedorismo no país europeu.   

Além disso, sugeriu a criação de incentivos fiscais para empresas italianas investirem em cultura na América do Sul, desde que os projetos tenham alguma ligação com a Itália. “É uma pauta muito rica: fazer com que os sul-americanos se sintam italianos e não queiram apenas pegar o passaporte”, disse.   

Crise política – Previstas inicialmente para o primeiro semestre de 2023, as eleições foram antecipadas pelo presidente Sergio Mattarella devido à crise política que culminou na renúncia do premiê Mario Draghi.   

Três partidos de sua coalizão de união nacional – o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), a ultranacionalista Liga e o conservador Força Itália (FI) – não participaram de um voto de confiança no Senado em julho, decretando o fim do atual governo.   

De acordo com as pesquisas, a coligação entre Liga, FI e o partido de extrema direita Irmãos da Itália (FdI) é favorita para obter maioria no Parlamento, sendo que o FdI, da deputada Giorgia Meloni, aparece em primeiro lugar na preferência.   

Matarazzo, no entanto, não se assusta com a possibilidade de um governo de extrema direita.   

“A gente não pode olhar a política como fatos isolados, e sim como um processo. Faz parte do processo de amadurecimento e evolução, ou de oscilação, da sociedade. Em países democráticos, como a Itália, isso faz parte. Será mais um ciclo, se isso acontecer. Eu não acho essas coisas assustadoras”, garantiu.   

(ANSA).