Muitos dos “Nemos”, ou peixes-palhaço, presos em aquários de crianças são capturados com cianureto – alertaram pesquisadores, que também denunciaram o perigo que essa prática tóxica representa para os corais.

A estreia do filme “Procurando Dory” nesta sexta-feira nos cinemas americanos – no Brasil, a sequência de “Procurando Nemo” será lançada em 30 de junho -, desenho animado sobre um peixe azul chamado cirurgião-patela que vive em recifes (Paracanthurus hepatus), provavelmente aumentará a venda dessa espécie tropical e a sua pesca, que utiliza veneno com cianureto, denuncia um relatório da ONG For the Fishes.

Depois do primeiro filme da franquia, mais de um milhão de peixes-palhaço (Amphiprioninae) já foram capturados de recifes tropicais, disse Craig Downs, do Laboratório Ambiental Haereticus da Virgínia (leste dos Estados Unidos), instituto de pesquisa que elaborou o relatório junto com a For the Fishes.

Uma das formas mais comuns – apesar de ilegal – de capturar esses peixinhos coloridos é usando cianureto.

“Para pegá-los, você coloca cianureto no peixe, ou ele vai para essa nuvem de cianureto e fica atordoado”, afirmou Downs, em entrevista à AFP por telefone.

Mais da metade dos aquários de água salgada comprada pelos pesquisadores em lojas de animais deu positivo para teste de cianureto, segundo o relatório.

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Os resultados seriam similares em qualquer outro país, já que a maioria dos peixes de aquário provém do mesmo fornecedor, completou Downs.

Segundo ele, no ano que vem serão realizados testes em lojas da Europa.

A equipe aplicou o teste em mais de 100 peixes, incluindo os azuis, como a Dory, dos quais cerca de 300.000 exemplares são vendidos todo ano, segundo um informe recente.

Os peixes azuis são vendidos nos aquários por até US$ 170 o exemplar, segundo Downs.

“Todos os peixes como ‘Dory’, ou ‘Nemo’, que eu comprei têm – salvo um – altos níveis de resíduos de veneno”, reforçou Downs, acrescentando que eles “não sobreviveram mais de nove dias depois da compra”.

Destruindo recifes

Pior do que a decepção do cliente é a prática da pesca com cianureto, devastadora para as barreiras de coral de onde provêm esses bichinhos popularizados por Pixar e Disney.

“A pesca com cianureto é muito destrutiva para os recifes de coral, que atualmente sofrem os estragos da mudança climática. Em todo o Pacífico e Índico, os corais estão sofrendo branqueamento”, adverte Downs.

“Um coral nesse estado tem a possibilidade de se recuperar, se não houver outro fator poluente em seu entorno. Mas, se você joga uma nuvem de cianureto sobre um recife para atordoar todos os peixes e o coral está branqueando, o recife morre. Todo o coral vai morrer”, explicou.

As espécies de peixes não se encontram sob risco de extinção, mas, “provavelmente em uns 50 anos, haverá tão poucos recifes, que a maioria de seus peixes provavelmente estará na lista de espécies ameaçadas”, alertou o pesquisador.

O estudo será apresentado no Simpósio Internacional sobre Recifes de Coral do Havaí na próxima semana e enviado para um periódico, para ser publicado ainda este ano.


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