O presidente do Curdistão iraquiano, Massud Barzani, anunciou neste domingo (29) em uma carta ao Parlamento da região autônoma que não será mais presidente “depois de 1º de novembro”, em meio a uma crise sem precedentes entre Erbil e Bagdá.

“Depois de 1º de novembro não vou mais exercer minhas funções e rejeito a extensão do meu mandato”, afirma no texto, ao qual a AFP teve acesso.

“Mudar a lei sobre a presidência do Curdistão ou prolongar o mandato presidencial não é aceitável”, ressaltou a autoridade, grande arquiteto do recente referendo de independência, que resultou na perda pelos curdos de quase todos os territórios que reivindicam além da região autônoma.

“Peço ao Parlamento que se reúna para preencher o vácuo de poder, para cumprir a missão e assumir os poderes da Presidência do Curdistão”, continua o fundador desta região autônoma, mas também a pessoa responsável pela sua crise mais grave.

Aos 71 anos, o líder curdo ainda veste o uniforme cáqui dos combatentes curdos (peshmergas), e afirma que “permanecerei como um peshmerga nas fileiras do povo do Curdistão e continuarei a defender as conquistas do povo do Curdistão”.

A carta foi enviada ao Parlamento curdo, que está reunido na tarde deste domingo em Erbil para decidir sobre a divisão provisória de seus poderes até a realização de eleições presidenciais, cuja data ainda não foi fixada.

Várias vezes adiada, a sessão começou salpicada por tensões.

A oposição, notadamente o partido Goran, que defende a renúncia de Barzani e um “governo de salvação nacional”, opõe-se à distribuição dos poderes proposta pelos principais partidos curdos, o Partido Democrata do Curdistão (PDK) do próprio Barzani e seu rival a União Patriótica Curda (PUK), segundo deputados.

Massud Barzani “simboliza o fracasso da política curda e a única coisa que ele tem a fazer é pedir desculpas públicas”, lançou antes da abertura da sessão Rabun Maaruf, deputado pelo Goran.

Os partidários do presidente curdo imediatamente assumiram sua defesa.

O mandato de Barzani, primeiro presidente eleito da região autônoma, expirou em 2013. Foi prolongado por dois anos pelo Parlamento e continuou sem eleição ou decisão formal em razão do caos gerado pela ofensiva do grupo Estado islâmico (EI) no Iraque.

Recentemente, o Parlamento curdo congelou as prerrogativas de Barzani em razão das consequências desastrosas do referendo de independência que organizou.

Esta consulta, onde o “sim” prevaleceu, provocou uma crise sem precedentes entre Bagdá e Erbil.

Bagdá enviou suas tropas para recuperar o controle de todas as áreas fora da região autônoma, onde os curdos se estenderam desde 2003, incluindo a província rica em petróleo de Kirkuk (norte) que poderia assegurar a viabilidade econômica de um Estado hipotético curdo.

Erbil também não conseguiu garantir o apoio internacional que esperava para o seu referendo de independência.