05/04/2023 - 19:28
Quatro crianças foram assassinadas, nesta quarta-feira (5), por um homem que, armado com uma machadinha, invadiu uma creche em Blumenau, Santa Catarina – uma “monstruosidade” que chocou o Brasil.
O ataque, ocorrido pela manhã, deixou outras quatro crianças feridas, que foram hospitalizadas. Todas as vítimas tinham entre 3 e 7 anos, explicou Ulisses Gabriel, chefe da Polícia Civil do estado de Santa Catarina, em coletiva de imprensa.
O agressor, de 25 anos, “pulou o muro” da creche particular Cantinho Bom Pastor “com uma arma branca, do tipo machadinha, e desferiu golpes nas crianças, especialmente na região da cabeça”, disse à imprensa Diogo de Souza Clarindo, do Corpo de Bombeiros. Testemunhas relataram que o homem atacou as crianças no parquinho da creche.
Morador de Santa Catarina e com antecedentes criminais, o agressor se entregou posteriormente à Polícia Militar e foi detido.
“Agradeço a Deus por todos os momentos que vivi com meu filho”, disse, em frente à creche, Bruno Bridi, pai de Bernardo, de cinco anos, morto no ataque.
“Hoje ele chegou na creche imitando um coelhinho, ele e o amiguinho dele. É isso, [vou] fazer valer todos os momentos dele”, lembrou Bridi, aos prantos.
Os feridos, duas meninas de cinco anos e dois meninos de três e cinco, “se encontram estáveis […] e ficarão em observação por pelo menos 24 horas” após terem passado por cirurgia sob anestesia, informou o Hospital Santo Antônio de Blumenau.
As autoridades informaram que, no momento do ataque, cerca de 40 crianças estavam na creche.
“Foi um caso isolado”, disse Gabriel, que descartou um “fato coordenado”.
O agressor tinha ao menos quatro antecedentes policiais desde 2016, entre outros, por ter esfaqueado o padrasto e posse de cocaína. As autoridades vão investigar suas atividades nas redes sociais e em seu telefone celular.
– Em ‘choque’ –
Uma professora, Simone Aparecida Camargo, relatou que trancou várias crianças em um banheiro para protegê-las do autor do crime, segundo o site Metrópoles.
Seus colegas viram o agressor, que “foi no parque para matar”, acrescentou a professora.
André Nazario relatou que sua esposa, outra funcionária do estabelecimento, lhe contou que depois que o agressor foi embora, “ela foi até o parque, viu as crianças [mortas] e tentou reanimar uma, pelo que parece, mas não conseguiu. Ela estava em choque”.
Pelo Twitter, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou “a monstruosidade” do ataque: “uma tragédia como essa é inaceitável, um comportamento, um ato absurdo de ódio e covardia como esse”.
Após se reunir com Lula, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou que o governo federal vai destinar 150 milhões de reais aos municípios para reforçar a segurança nas escolas.
“Minha solidariedade profunda às famílias das vítimas dos crimes em Blumenau”, tuitou Dino.
A creche prometeu trabalhar incansavelmente para esclarecer os fatos e exigir penas mais duras.
A morte das crianças, “todos filhos únicos”, deixa “uma marca na história de Blumenau”, disse Mário Hildebrandt (Podemos), prefeito da cidade de 360.000 habitantes, onde foram suspensas as aulas nas escolas e as comemorações da Páscoa.
O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), decretou três dias de luto oficial.
As autoridades locais informaram na coletiva de imprensa que trabalham em um plano de prevenção e contingência diante dos casos de violência nas escolas.
– Tragédias repetidas –
Os ataques a escolas aumentaram nos últimos anos no Brasil. O mais recente aconteceu em 27 de março, quando um adolescente de 13 anos matou a facadas uma professora de 71 anos em uma escola em São Paulo. Outras docentes conseguiram desarmá-lo e evitar mais mortes.
Em novembro do ano passado, um adolescente de 16 anos matou quatro pessoas a tiros e feriu mais de uma dezena em dois ataques a escolas na cidade de Aracruz, no Espírito Santo.
Em maio de 2021, também em Santa Catarina, um ataque realizado por um jovem de 18 anos, armado com uma faca, deixou três crianças de 2 anos e dois professores mortos em uma pré-escola no município de Saudades.
Em 2019, dois ex-alunos mataram oito pessoas a tiros em uma escola de ensino médio em Suzano, na periferia de São Paulo, e depois se suicidaram.
O ataque mais mortal já registrado em escolas no Brasil ocorreu em 2011. Na tragédia, 12 crianças foram mortas, quando um homem abriu fogo em sua antiga escola em Realengo, subúrbio da zona oeste do Rio de Janeiro, antes de tirar a própria vida.