O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, minimizou a polêmica em torno do vídeo da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) e disse que “não é crime andar de lancha”. Irritado com os questionamentos de jornalistas, o ministro disse que não faz parte deste patrulhamento excessivo, que a deputada “não estava roubando” e que “na praia não poderia estar de burca”.

Em um vídeo que passou a circular ontem na internet, Cristiane, cercada por quatro homens sem camisa, em uma lancha, se defende das acusações de irregularidades trabalhistas usadas para impedi-la de tomar posse como ministra do Trabalho. “Sinceramente, fazer comentários sobre um vídeo que uma pessoa aparece na praia, dizendo algumas coisas. Ela não estava roubando. Será que todas as pessoas que andam de lancha no Rio de janeiro são amorais ou imorais?”, disse Marun, que ainda questionou os jornalistas sobre se ninguém nunca havia andado de lancha.

Ao ser questionado sobre se o episódio não traria um desgaste a mais para o governo, que tenta na Justiça liberar a posse da deputada no Ministério do Trabalho, Marun disse que “muita gente bate bumbo pela liberdade, mas na verdade são uns talibãs enrustidos. Queriam que ela tivesse de burca?”, indagou aos jornalistas. “Eu sei que vocês são todos baluartes da moral e dos bons costumes e até quem sabe do estabelecimento de burca”, completou.

Irritado, o ministro disse que o que deveria estar em discussão é o que “é grave neste momento” de o presidente Michel Temer “não ter a sua prerrogativa constitucional de nomear ministros respeitada”. “Essa questão está hoje na Justiça, temos absoluta convicção que prevalecerá o necessário respeito a constituição”, afirmou.

“Se ela vai à praia de burca, de saída de banho, não é uma coisa que nos interesse e me recuso a comentar porque eu não faço parte desses grupos de patrulhamento comportamental tão rígido quanto os senhores e as senhores fazem”, afirmou, encerrando a coletiva convocada para comentar o esforço do governo em insistir pela aprovação da reforma da Previdência.

Polêmica

No vídeo, com uma música ao fundo, a deputada diz que “todo mundo pode pedir qualquer coisa abstrata (na Justiça)”. “Eu tenho para falar pra vocês o seguinte: todo mundo tem o direito de pedir qualquer coisa na Justiça. Todo mundo pode pedir qualquer coisa abstrata. O negócio é o seguinte: quem é que tem direito? Ainda mais na Justiça do Trabalho? Eu juro pra vocês que eu não achava que eu tinha nada pra dever para essas duas pessoas que entraram contra mim e eu vou provar isso em breve”, afirma.

Um dos homens que a acompanham pede para dar uma declaração “como empresário”. “Eu posso dar uma declaração como empresário aqui? Ação trabalhista toda hora a gente tem”, diz. Um outro completa: “Todo mundo pode ter, eu tenho, ele tem”. “E eu tô com você, doutora”, diz um deles. No fim da gravação, a deputada afirma: “Eu só quero saber o seguinte: que pode passar na cabeça das pessoas que entram contra a gente em ações trabalhistas?”

A assessoria da parlamentar afirmou que “a gravação e a divulgação do vídeo foram manifestações espontâneas de um amigo, editadas fora do contexto”. “A deputada reitera seu respeito à prerrogativa do trabalhador de reivindicar seus direitos.”