A campeã olímpica Martine Grael é marinheira de primeira viagem na Volvo Ocean Race. Em Itajaí, no litoral de Santa Catarina, a brasileira está prestes a largar para Newport, nos Estados Unidos, no domingo, rumo à oitava etapa da regata de volta ao mundo.

Nesta sexta-feira, ela, que integra a embarcação holandesa da Akzonobel, concedeu entrevista coletiva para falar sobre as dificuldades que está enfrentando em uma das competições mais difíceis e desafiadoras da vela e as expectativas para as quatro etapas que restam.

“Quando a gente está no mar, me pergunto várias vezes o que estou fazendo aqui? Por que não estou com a Kahena treinando para 49ers que é mais fácil, mais agradável. Mas quando a gente chega em terra esquece desses problemas e já pensa em voltar”, afirmou.

Martine faturou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos do Rio-2016 ao lado de Kahena Kunze na classe 49ers FX. No último ano, no entanto, ela tem se dedicado a essa nova experiência, a regata de volta ao mundo. Sobre a última perna da competição, que cruzou os mares do sul de Auckland, na Nova Zelândia, até o Brasil, ela destacou as dificuldades, mas também se disse encantada com a paisagem.

“Os mares do sul são muito encantadores. Foi a melhor velejada que já fiz na minha vida. A natureza tem uma beleza, as nuvens parecem vivas no alto mar. Ao mesmo tempo foi uma das mais duras, mais extremas.”

Para disputar a regata de volta ao mundo, Martine contou que precisou de cerca de seis meses de preparação. No final de março do ano passado, ela entrou para a equipe e passou a velejar quase que diariamente na embarcação. Também realizou treinamento físico. Isso até outubro, quando começou a temporada 2017/2018.

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“Pronta nunca estive. No começo sofri um pouco porque tem que levantar muito peso, tem que ficar por muito tempo em posições desconfortáveis. Você praticamente não dorme. Mas com tudo na vida você vai se acostumando”, disse.

Martine, de início, por ser estreante, informou que não tinha muita função no barco. No entanto, foi aprendendo e após uns dias no mar passou a ficar responsável pela parte de trás do veleiro. “Fico girando a catraca (para levantar e baixar a vela). Sempre que tem manobra vou para frente porque tem que ir todo mundo”, disse.

Quando a navegação estabiliza e estão em alto mar, a equipe se divide no revezamento por turnos. São quatro horas velejando e quatro horas descansando. “Aí se pode fazer o que quiser: comer, dormir, fazer higiene básica”, disse.

Martine contou que encontrou bastante dificuldade para dormir no início porque as condições não são boas. “São duas a três horas por dia. Pra mim que adoro dormir…”. E também sofreu com a alimentação porque toda comida é liofilizada, ou seja, desidratada. “Acaba que depois de uns dias parece que tem tudo o mesmo gosto. Quando cheguei em Itajaí a primeira coisa que fiz foi comer um prato de arroz com feijão. Sinto falta de salada, frutas, comidas frescas quando estou no mar”, revelou.

Sobre a competição, Martine está satisfeita com a evolução da equipe, que começou mal as primeiras etapas, mas nas últimas três subiu no pódio. “Saímos de uma situação muito ruim e agora temos chegado estamos na briga pelas primeiras posições”, disse.

O barco Akzonobel ocupa o quarto lugar na classificação geral. A embarcação chinesa da Dongfeng está na liderança, com 46 pontos, seguida pela espanhola da Mapfre, com 45. O veleiro de Martine tem 36 pontos e restam quatro etapas para o término.

Para ela, o segredo da evolução de sua equipe foi a união dos nove tripulantes. “A disputa é bastante acirrada. Os barcos são praticamente iguais, então é muito pegado. Tem que ter muita resiliência de persistir, tentar novamente. A competição gira muito em torno da evolução do seu time. Mais do que o resultado, está em jogo como se relacionar”, finalizou.


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