O holandês Mark Rutte, conhecido por sua capacidade de argumentar com Donald Trump, terá de mobilizar todas suas capacidades diplomáticas para liderar a Otan em um dos períodos mais difíceis de sua história.

Os 32 países da Aliança Atlântica nomearam nesta quarta-feira(26) o primeiro-ministro holandês em final de mandato, de 57 anos, como o próximo secretário-geral. Ele assumirá suas funções no dia 1º de outubro.

Rutte, que tem 1,93m de altura, tem muitos apelidos, como “Teflon Mark”, por sua capacidade de se manter no poder, ou “The Trump Whisperer”, aquele que sussurra ao ouvido de Trump, que quer retornar à presidência dos Estados Unidos após as eleições de novembro.

A primeira habilidade o tornou o primeiro-ministro que mais permaneceu no cargo em seu país. Em 2021, sobreviveu até mesmo à dissolução do seu governo após um escândalo relacionado a benefícios sociais.

A segunda qualidade poderá ser crucial à frente da Otan se Trump, cético quanto ao compromisso dos Estados Unidos na Aliança, ganhar um segundo mandato este ano.

Em 2018, conseguiu salvar uma cúpula da Otan ao falar com Trump sobre investimentos em defesa. Em uma visita a Washington em 2018, não hesitou em interrompê-lo com um sonoro “não”.

Rutte também tem uma imagem de “Sr. Normal”. Além de chegar de bicicleta a reuniões com líderes estrangeiros, faz suas próprias compras no supermercado e dirige um Saab para encontrar o rei.

Os Países Baixos assinaram este ano um acordo para mais de 2 bilhões de dólares (10,85 bilhões de reais na cotação atual) em ajuda militar à Ucrânia ao longo de dez anos.

Rutte também liderou esforços para equipar Kiev com caças F-16 para melhor se defender contra a invasão russa que começou em fevereiro de 2022.

“A Ucrânia deve vencer esta guerra. Pela sua segurança e pela nossa”, disse Rutte, o quarto holandês à frente da Otan.

– “Senhor Não” –

Seus 14 anos como primeiro-ministro foram marcados, entre outros, pelo caso do voo MH17 da Malaysia Airlines, atingido por um míssil russo enquanto sobrevoava a Ucrânia. Entre os 298 mortos estavam 196 holandeses.

Rutte descreveu recentemente o presidente russo, Vladimir Putin, como “frio, brutal e implacável”.

O segundo líder europeu com mais tempo de exercício, depois do húngaro, Viktor Orban, conseguiu convencer a Turquia e a Hungria, os mais resistentes à sua candidatura à Otan.

Orban não gostou quando Rutte disse que a Hungria não deveria fazer parte da União Europeia depois de adotar uma lei que proíbe a promoção de conteúdo LGBTQIAPN+ para menores.

Também irritou países do sul da Europa com sua linha dura em relação aos resgates financeiros durante a crise da dívida da zona euro, o que lhe valeu outro apelido, “Sr. Não”.

Sua carreira política nos Países Baixos foi marcada por vários escândalos.

No ano passado, o colapso repentino de sua coligação, após uma disputa sobre o direito ao asilo, levou a eleições antecipadas, vencidas pela extrema direita de Geert Wilders.

Rutte é o mais novo de sete irmãos. Seu pai, Izaak, era comerciante. Sua mãe, Mieke, era irmã da primeira esposa de Izaak, que morreu em um campo japonês durante a Segunda Guerra Mundial.

Embora sonhasse em ser pianista, estudou na Universidade de Leiden e acabou trabalhando para a gigante anglo-holandesa de produtos de consumo Unilever.

Seu estado civil, solteiro, gerou especulações na imprensa, um tema que sempre evitou, garantindo que era “feliz”.

Ele se descreve como um “homem de costumes e tradições” e passou toda a sua vida em Haia, onde leciona voluntariamente.

“Mark não gosta de mudanças, ele quer sempre a mesma coisa”, diz Marco Rimmelzwaan, seu cabeleireiro.

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