Na última semana, os defensores da insustentável teoria conspiratória de que o PT, Lula e Dilma seriam vítimas de um golpe precisaram recorrer a exaustivos contorcionismos intelectuais para fingir comemorar a prisão de Eduardo Cunha. Em tese, teriam apenas que festejar. Uma vez acuado na cadeia, o ex-presidente da Câmara poderia definitivamente vestir os trajes de homem bomba e delatar a cúpula do PMDB e seus aliados. Eles sabem, porém, que essa é apenas uma leitura simplista do que representa a prisão determinada pelo juiz Sérgio Moro. Na verdade, a chegada de Cunha a uma cela de Curitiba traduz um cala boca final no lulopetismo, que vinha tentando emplacar a lorota de que a Lava Jato e o juiz Moro promoviam uma “caçada” contra o ex-presidente Lula e o “projeto político do PT”, selecionando os alvos da investigação e criminalizando a legenda. Nem mesmo seus protagonistas levavam a sério esse discurso, mas o adotavam como uma espécie de habeas corpus preventivo a favor de Lula e Dilma. A prisão de Cunha sepulta a argumentação.

Na verdade, o encarceramento de Cunha foi a segunda grande derrota da narrativa petista em menos de um mês. A alegação de que o partido da estrela vermelha fora vítima de um golpe com o impeachment de Dilma havia sido enterrada nas urnas das eleições municipais com um sonoro “não” da sociedade que se distanciou da legenda em todo País. Agora, com Cunha na cadeia, Lula, seus familiares e a ex-presidente Dilma entram na rota de prioridades daqueles que devem prestar contas à Justiça.

O Brasil passado a limpo precisa mesmo punir todos os que o lesaram, independentemente da coloração partidária. Moro mostrou, ao mandar prender Cunha, que está nesse caminho. Com isso, seria mais produtivo ao PT que, ao invés de buscar teorias conspiratórias, se empenhasse numa espécie de refundação, livrando-se do entulho em que se transformou boa parte de seus líderes e buscando novos caminhos, comprometido com a verdade e não com falsas argumentações que em nada contribuem para a construção de um Brasil mais inclusivo, democrático e menos corrupto. Pelo contrário, apenas acirram os ânimos e dividem uma sociedade que precisa buscar suas convergências para superar uma crise que fere a todos.

A prisão do ex-deputado traduz um cala boca no lulopetismo, que vinha tentando emplacar
a lorota de que a Lava Jato promovia uma “caçada” contra o “projeto político do partido”