No último fim de semana, ao maratonar a série ‘Tremembé’, do Prime Video, fiquei impactada com a brilhante atuação de Marina Ruy Barbosa ao dar vida a Suzane von Richthofen — jovem que, em 31 de outubro de 2002, aos 18 anos, arquitetou o assassinato dos pais, Manfred e Marísia von Richthofen, crime executado pelo então namorado, Daniel Cravinhos, e pelo irmão dele, Christian Cravinhos. O caso que paralisou o país há mais de duas décadas volta ao debate público pela lente do audiovisual e, sobretudo, pelo talento de uma atriz que acaba de dar o passo mais arriscado e poderoso de sua carreira.
Ao longo dos cinco episódios da série, esqueci completamente que estava assistindo a Marina Ruy Barbosa. A atriz que o Brasil se habituou a ver como mocinha — doce, meiga, reluzente em novelas da Globo e nas redes sociais — desaparece por completo. Marina se despe do glamour, abandona o padrão de beleza perfeito do Instagram e mergulha na persona criminosa mais sedutora, manipuladora e fria da Penitenciária 1 de Tremembé, prisão marcada por acolher réus de grande repercussão midiática.
A atuação ultrapassa o desempenho técnico. Marina não apenas constrói uma vilã: ela retrata um tipo de frieza que nos provoca desconforto real. Seu olhar esvaziado, a calma cínica, o sorriso que não combina com o horror da história — cada detalhe corporal evoca uma Suzane conhecida pelas câmeras, mas jamais compreendida em profundidade. A atriz caminha na linha estreita entre o realismo necessário e o risco de glamourizar o crime — e sai vitoriosa ao não romantizar a tragédia que marcou o Brasil.
Uma virada de chave na carreira
O que vemos em ‘Tremembé’ não é mais uma estrela bonita em cena, e sim uma atriz madura que decide romper com as expectativas do público e da crítica. Marina parece dizer: “Eu não sou apenas o que vocês acham que eu sou”. E essa mensagem, em um mercado que frequentemente limita seus talentos femininos a estereótipos, é revolucionária.
Se antes ela era vista como símbolo de vaidade, agora se afirma como intérprete de densidade dramática. É como se cada fala dada em tons baixos, cada silêncio pesado, cada manipulação sutil de Suzane reivindicasse respeito profissional. Não há exageros, não há caricaturas — há estudo.
E isso importa. Importa porque Marina, ainda que já consagrada em números e seguidores, precisava dessa prova artística para consolidar sua longevidade na dramaturgia. Ela encontrou em Suzane o personagem transformador que todo ator, cedo ou tarde, precisa enfrentar.
O que se antecipa — e já se vê nas redes e nas primeiras críticas — é uma onda de elogios que não soa exagerada. Marina entrega uma performance que certamente figurará entre as grandes do audiovisual nacional dos últimos anos. Ela está preparada para ser celebrada. E merece.
Aos 30 anos, Marina se reinventa. Essa é a força da arte: permitir renascimentos.
Na reta final de 2025, fica evidente que Marina Ruy Barbosa consagra sua carreira com uma personagem que já marca sua trajetória. Uma escolha ousada que a posiciona entre as atrizes brasileiras mais relevantes de sua geração — não apenas pelo brilho dos holofotes, mas pela potência do seu trabalho.
Parabéns, Marina. Você mostrou a que veio — e o resultado é arrebatador.