Marina, Alckmin e até Maluf: as inesperadas alianças políticas de Lula nos últimos anos

Marina, Alckmin e até Maluf: as inesperadas alianças políticas de Lula nos últimos anos

A semana política começou com uma reviravolta. A ex-ministra Marina Silva (Rede) oficializou apoio ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa à Presidência. De acordo com ela, o ex-presidente possui “as maiores e melhores condições para derrotar [Jair] Bolsonaro e a semente maléfica do bolsonarismo que está se implementando na nossa sociedade”.

Marina foi ministra do Meio Ambiente de 2003 a 2008, no governo de Lula. Ela, porém, deixou o PT em 2009, após três décadas de filiação, após divergências. A então senadora do Acre juntou-se ao PV. Desde então, admitiu que teve mágoas do ex-partido quando, em 2014, foi atacada pela campanha de Dilma Rousseff (PT).

Lula e Marina se reuniram no último fim de semana e, antes do anúncio oficial pontuaram que nunca deixaram de estar próximos. Ela, no entanto, reforçou que o reencontro se deu “diante de um quadro grave da política do nosso país diante de uma ameaça à nossa democracia”. A medida se dá em um novo momento do ex-presidente em formar uma força diante do governo Jair Bolsonaro. Mas ver Lula com apoios políticos surpreendentes virou até comum nos últimos pleitos, como vamos lembrar aqui.

Lula e Alckmin (2022)

Geraldo Alckmin começou sua carreira política no PMDB (atual MDB), mas consolidou-se como integrante do PSDB, onde foi deputado federal, vice-governador e também governador de São Paulo. No partido, também concorreu à Presidência em duas ocasiões (2006 e 2018), derrotado em ambos os pleitos. No primeiro deles, o adversário foi justamente Lula.

Na campanha de 2006, Alckmin foi o maior adversário de Lula, que parecia liderar com folga nas pesquisas mesmo depois do escândalo conhecido como “Mensalão”. Agressivo e firme nos debates, o tucano reagiu e conseguiu levar a disputa para o segundo turno, quando acabou derrotado por 60,82% a 39,17% dos votos válidos.

Durante anos, a dupla ficou em lados opostos do espectro político, mas tudo mudou em 2021, quando Alckmin se desfiliou do PSB após 33 anos. Ao se filiar no PSB em março de 2022, rapidamente foi cotado como vice de Lula, decisão que posteriormente se concretizou e chamou a atenção de muitas pessoas, indicando que o petista queria agradar diferentes eleitorados em sua coligação que busca retornar ao Planalto.

Lula e José Alencar (2002 e 2006)

Depois de três derrotas consecutivas, Lula entrou como favorito na disputa à Presidência em 2022, mas a chapa então formada apenas por partidos de esquerda (PT, PCdoB e PCB) ou nanicos (PMN) não empolgava muito. Foi quando definiu-se a união com o PL – atual partido do presidente Jair Bolsonaro – e escolheu-se o empresário José Alencar como vice.

Durante dois mandatos, os dois comandaram o país. Apesar da união e do respeito, discordâncias aconteceram no meio do caminho, como quando o vice-presidente foi voz discordante dentro do governo sobre a política econômica defendida por Antonio Palocci, então ministro da Fazenda, que mantinha os juros altos para tentar conter a inflação.

Lula e Maluf (2012)

Essa aliança não foi diretamente para uma campanha de Lula, mas foi costurada pelo então ex-presidente. O petista juntou-se com o antigo rival político Paulo Maluf para que o PP apoiasse a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo. O apoio veio, mas com terremotos internos, como a desistência de Luiza Erundida do posto de vice.

Na época, o petista disse que não se arrependia “nem um pouco” da aliança. Anos depois, Lula afirmou que “nunca se perdoou” por ter aceitado posar para uma foto com Maluf em 2012.

“Eu estava com câncer, estava inchado, e foram me tirar de casa para uma foto com o Maluf”, recordou em um café da manhã com jornalistas na sede do Instituto Lula, em 2017.

Lula e Brizola (1989 e 1998)

Leonel Brizola foram duas fortes lideranças da esquerda brasileiras na segunda metade do século passado, mas também tinham suas discordâncias, especialmente pelas personalidades contundentes e sem espaço para diálogos. Por isso, apesar de estarem ao mesmo lado, foram adversários nas eleições presidenciais de 1989 após várias discussões para formação de alianças.

Brizola chegou a sugerir que ambos desistissem do pleito para que Mário Covas (PSDB) enfrentasse Fernando Collor (PRN) e tivesse mais chances. No fim, os dois seguiram e Lula obteve 11,6 milhões de votos, contra 11,1 de Brizola, em uma diferença de apenas 0,6%. No segundo turno, o gaúcho apoiou o petista, mas com seu jeito peculiar, dando uma das declarações mais conhecidas envolvendo a dupla.

“Não seria fascinante fazer esta elite engolir o Lula, esse sapo barbudo? Vamos no menos pior, pelo menos”, afirmou a colegas do PDT.

Depois de fracassar na disputa presidencial de 1994, ficando em 5º lugar, Brizola decidiu ser vice de Lula em 1998. A união aconteceu como uma forma do PT não se manter solitário nos palanques e comícios diante do forte apoio ao então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A aliança foi amarga e em 2002 os dois já seguiam caminhos distintos novamente, com Brizola apoiando Ciro Gomes.