Em uma mesa muito aplaudida, a escritora Marilene Felinto emocionou a plateia ao comentar sua trajetória particular e dizer que levou décadas para superar o “racismo internalizado na mentalidade do brasileiro”.

“Os ancestrais de minha mãe são possivelmente sobreviventes da degola e da tortura a que foi submetida pelo exército de Euclides da Cunha a gente preta do arraial de Canudos, os milhares de escravos recém libertos que zanzavam pelo sertão em busca de comida e alguma crença para suportar aquelas condições desumanas de vida”, leu, de um texto escrito previamente.

Ela reconhece que o escritor fez sua mea-culpa anos depois, em Os Sertões, mas diz que o fato pouco lhe importa. “Levei anos para superar o estrago do racismo internalizado na mentalidade do brasileiro, tão bem codificado no linguajar culto de Euclides e dos sociólogos do seu tempo.”

Marilene lançou seu primeiro romance, As Mulheres de Tijucopapo (republicado em nova edição para a Flip, assim como outros de seus livros), em 1982, e depois estabeleceu uma voz ativa na imprensa brasileira com uma coluna de comentários políticos na Folha de S. Paulo. Marilene desenvolveu ainda um trabalho educativo com jovens da periferia de São Paulo, estudando economia, sociologia e filosofia com alunos do ensino médio, e trabalhou para o PT em algumas ocasiões. Ao reconhecer que lhe foi muito custoso aceitar o convite para participar da Flip, dedicou sua fala “aos escritores do interior do Brasil e anônimos”.