Há três anos e quatro meses, no Rio de Janeiro, em uma noite quente e estrelada em que deveriam flutuar no ar somente siriris, delicadeza, sensualidade e lendas de disco voador — e jamais força bruta, emboscada e tiro –, foi metralhada dentro de seu carro a vereadora Marielle Franco: democracia social e extinção das milícias eram duas de suas principais bandeiras políticas, mais humanitárias e legalistas que ideológicas. Marielle lutava para que os pobres tivessem trabalho, paz e pão. No atentado morreu também o seu motorista, Anderson Gomes. Três delegados já se sucederam no comando das investigações, em uma coleção de fracassos. Por incompetência, descaso ou ordens superiores (ou, vai ver, pelos três fatores juntos), eles não chegaram ao mandante do crime. Agora assume o caso um quarto delegado. O Estado de Direito e o dinheiro público que paga o salário de policiais cobram o dever da elucidação dos motivos reais do assassinato.

Quando chega notícia grande envolvendo a morte de Marielle é sempre notícia muito preocupante. As últimas, nesse sentido, dão conta de que duas excelentes e íntegras promotoras decidiram abandonar a força-tarefa, sob a alegação de que há risco de interferência externa. Interferência de quem? As promotoras brilharam nas investigações, foram vitais para que executores tenham sido condenados, mas não foram explícitas, como todos nós esperávamos, sobre as tais interferências externas. Sejam quem forem os poderosos, é imperioso que sejam identificados e punidos. Não é somente o Rio de Janeiro nem somente o Brasil que querem justiça no caso de Marielle Franco. São, também, diversas nações civilizadas.

De um coisa eu estou convicto: se a vereadora Mariele Franco estivesse viva, e outra Marielle tivesse sido executada, todos os responsáveis pelo crime, mandantes incluídos, já estariam presos. Assim era ela, tinha sede de justiça nesse Brasil tão injusto. Também por isso a mataram.

Diz uma lenda do folclore, não carioca mas do interior paulista, que alguns cupins alados, que são os próprios siriris, sinalizam no ar o caminho que leva o ser humano à felicidade – por isso eles se multiplicam e voam tanto nas épocas de natal. Não tenhamos dúvida: um desses bichinhos também sinalizará onde estão os mandantes que tiraram para sempre, de Marielle e Anderson, as chances de viverem noites quentes e bonitas.