Ou a polícia civil do Rio de Janeiro NÃO QUER CHEGAR aos mandantes da execução da vereadora Marielle Franco ou NÃO PODE CHEGAR a tais mandantes. Na primeira hipótese ela está mascarando a sua incompetência e prevaricação; na segunda, está demonstrando subserviência e acobertando aqueles que a mandam fingir que há em curso uma séria e contínua investigação.

As duas alternativas se complementam e fazem não restar dúvidas de que se tratou de um crime político.

Os dois ex-PMs que estão presos, aguardando julgamento, não decidiram por si matar Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, porque ela defendia direitos humanos.

Miliciano não leva as coisas das quais discorda como algo pessoal, e essa frieza e índole calculista funcionam em dupla face, como ocorre com matadores profissionais e assassinos de aluguel: exterminam uma vida humana cumprindo ordens que vêm de cima e a partir de poderosos que remuneram bem. Sentimentos de raiva ou de apreços não entram em jogo. Trata-se do primado da indiferença.

Por que os dois PMS não abrem a boca? Porque, com certeza, eles não sabem quem é o chefão – se soubessem, já teriam falado há muito tempo. Os únicos dois prisioneiros, que precisam ser condenados, são “tão qualquer coisa”, tão insignificantes, que só sabiam que tinham de matar Marielle e, inevitavelmente, o motorista morreria junto.

Não adianta procurar o mandante ou os mandantes do crime nas coberturas de políticos nem nas casas de alvenaria aparente das comunidades. Quem está atrás disso tudo, de imediato, é alguém de uma classe social e econômica intermediária a serviço de um jogo político pontual, de bairro e localizado. Agora, atrás desse mandante, aí sim vem o graúdo. A POLÍTICA DO BAIRRO PASSA PELA POLÍTICA DO QUARTEIRÃO, ASSIM COMO A POLÍTICA ESTADUAL PASSA PELA CIDADE, E A POLÍTICA NACIONAL, POR UM ESTADO DA FEDERAÇÃO.

Já voaram quatro anos da morte de Marielle. Cinco delegados de polícia estiveram à frente do caso e tudo foi em vão porque nem tudo foi investigado. É uma vergonha para o Brasil que o mundo civilizado noticie esse período de quatro anos condenando o País que não apresentou até agora resultados concretos nas averiguações. O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, comprometeu-se com familiares de Marielle em dar acelerado andamento no caso — e esclarecê-lo.

Ele sabe que falou somente por falar.