A Rússia anunciou nesta terça-feira que as negociações em Moscou entre os dois líderes rivais da Líbia resultaram numa prorrogação indefinida da trégua, apesar da recusa do marechal Khalifa Haftar de assinar um acordo formal.

Segundo Moscou, Haftar, que controla o leste da Líbia, deixou Moscou sem assinar o acordo de trégua aceito por seu rival, Fayez al-Sarraj. Ele argumentou que precisa de dois dias para estudar o documento e apresentá-lo a suas tribos aliadas.

O principal resultado da reunião foi a conclusão de um acordo de princípio para manter e prorrogar indefinidamente o cessar-fogo”, informou o ministério da Defesa russo.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, anunciou que “não houve resultado definitivo” após o encontro das facções rivais em Moscou, mas garantiu que seu país continuará trabalhando em conjunto com a Turquia para conseguir uma trégua duradoura.

Já o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou “dar uma lição” ao rebelde. “Não hesitaremos nunca em infligir ao golpista Haftar a lição que ele merece, se prosseguir com os ataques contra a administração legítima e contra nossos irmãos na Líbia”, advertiu.

Sarraj, chefe do governo líbio reconhecido pela ONU, o GNA, e Haftar, cujas tropas estão posicionadas na periferia de Trípoli há nove meses, não se encontraram pessoalmente em Moscou, mas negociaram um acordo de trégua com mediação dos ministros da Rússia e da Turquia.

Essa reunião em Moscou foi o resultado de um acordo sobre um cessar-fogo alcançado em 8 de janeiro em Istambul pelo presidente russo, Vladimir Putin, e Erdogan, que mostram sua influência no caos que prevalece na Líbia, frente a uma comunidade internacional impotente.

– Conferência em Berlim –

O projeto de acordo, ao qual a AFP teve acesso, apoia a iniciativa russo-turca de lançar “uma cessação ilimitada das hostilidades” na Líbia. Defende “a normalização da vida cotidiana em Trípoli e em outras cidades”, assim como a distribuição da ajuda humanitária “de maneira totalmente segura”.

Ancara apoia Sarraj, e Moscou, apesar de negar, apoia Haftar com armas, dinheiro e mercenários.

O fato de ele ter deixado Moscou sem assinar o acordo multiplica as questões sobre a viabilidade de uma conferência internacional sobre a Líbia, apoiada pela ONU, que deve ocorrer em Berlim, no dia 19 de janeiro.

Putin e a chanceler alemã, Angela Merkel, conversaram por telefone na segunda-feira à noite para finalizar “os preparativos para esta cúpula internacional e do encontro em Moscou dos rivais líbios”.

Segundo Lavrov, toda comunidade internacional – russos, turcos, europeus, argelinos, egípcios, catarianos e árabes – “instam os rivais líbios a se entenderem em vez de resolverem suas diferenças por meios militares”.

Ao mesmo tempo, as negociações para o estabelecimento de uma missão de observação continuam na ONU na expectativa de uma trégua estável.

A entrada da Turquia no território líbio, a suposta presença de mercenários russos e a existência de vários grupos armados fazem a comunidade internacional temer que o conflito líbio se internacionalize e degenere.

A Europa não quer que a Líbia se torne uma segunda Síria e também deseja reduzir a pressão migratória em suas fronteiras. Nos últimos anos, o continente recebeu milhares de pessoas fugindo das guerras nesta parte do mundo.

Para Moscou, a comunidade internacional é responsável pelo conflito na Líbia, país africano com as maiores reservas de petróleo, porque apoiou militarmente os rebeldes que derrubaram e mataram Muammar Khadafi em 2011.

Recentemente, Lavrov denunciou “a aventura criminosa” da Aliança Atlântica que “destruiu o Estado da Líbia”.

Encorajada por sua influência na Síria, Moscou agora deseja recuperar o terreno perdido na Líbia, aproveitando o fracasso ocidental.

Além das questões geopolíticas, a Rússia está confiante de que a Líbia se tornará um comprador de suas armas e de seu trigo e será a porta de entrada para a África.

A Turquia também tem ambições no setor de petróleo, através de um controverso acordo assinado com o GNA que permitirá explorar novos depósitos.