Rio – Muito se esclareceu à população sobre a necessidade de uma reforma do nosso sistema previdenciário. De forma geral, o brasileiro percebeu bem a situação fiscal deficitária das contas das aposentadorias, a maior longevidade que alcançamos nas últimas décadas, e os privilégios de algumas classes em detrimento do regime geral. Há relatos dispersos do impacto da aposentadoria na vida dos indivíduos em geral, mas pouquíssimos trabalhos falam sobre a aposentadoria médica, e, menos ainda, sobre a de cirurgiões ortopédicos.

Não raramente, o disputado curso de medicina exige uma preparação adicional que retarda a entrada do estudante na faculdade. A duração do curso regular se faz em 6 anos; e a especialização, exigência mandatória para se tornar um ortopedista, é de no mínimo 3 anos. Esse percurso, claro, atrasa a entrada deste profissional no mercado de trabalho.

Um estudo original sobre o tema vem da Associação de Ortopedia da Índia. Em linhas gerais, recomendam que os preparativos para a aposentadoria se iniciem por volta dos 40 anos. “Tudo que semeamos nesta idade pode ser colhido em uma idade mais avançada”, defendem os colegas indianos. Eles elencam alguns pilares que devem ser trabalhados de modo permanente e precoce na carreira do ortopedista: saúde e qualidade de vida; segurança financeira; estabilidade familiar e emocional; atividades de lazer e participação social; modificação gradual das atividades médicas; e preparação espiritual.

Cuidados com o corpo, incluindo uma dieta saudável e a prática de exercícios, auxiliam na manutenção de um estado saudável e na prevenção de doenças. Cerca de 80% dos idosos tem pelo menos um problema de saúde crônico e, 50%, no mínimo, dois. Chegar em melhores condições a esta idade, mesmo que não as previna, prepara para lidar melhor com estas limitações impostas pelo tempo. A exposição à radiação e as noites mal dormidas cobrarão suas faturas no futuro.

O estudo indiano alude a uma pesquisa envolvendo mais de 700 ortopedistas. Cerca de 25% achava que poderia dedicar mais tempo a suas famílias; 10% apontava que esse bom relacionamento era um dos grandes desafios a serem conciliados com a carreira.

Retornar à sociedade os conhecimentos que a ortopedia lhe deu ao longo da carreira parece ser uma ótima forma de se manter ativo na aposentadoria. Palestras em escolas, em associações beneficentes, aulas em cursos à distância ou presencial, atividades intelectuais, como, participar das reuniões clínicas do serviço a que o ortopedista pertencia e seguir frequentando os congressos da especialidade, são modos de se manter em conexão com a vida ortopédica.

Não sabemos ao certo qual tipo de Nova Previdência teremos e por quanto tempo ela será sustentável. Não está sob o controle do ortopedista o modo pelo qual a categoria será tratada nesta fundamental reforma. Mas o planejamento para que esse momento de aposentadoria não seja de ruptura, mas de continuidade, só depende de você. Quero dizer, de nós.

Marcus Vinicius Dias é cirurgião ortopedista do Ministério da Saúde e mestre em Economia pelo IBMEC