Marcus D’Almeida levou o tiro com arco do Brasil para outro patamar. No Mundial que terminou no domingo, em Yankton, nos Estados Unidos, ele conquistou a inédita medalha de prata, maior feito do País na modalidade. “É uma sensação incrível colocar a bandeira do Brasil no pódio. É um momento muito importante da minha carreira”, disse, em entrevista ao Estadão.

Aos 23 anos, o atleta teve duas mudanças muito importantes e que o ajudaram a dar um salto em seu desenvolvimento. A primeira foi na parte física, principalmente no que se refere à alimentação. Ele mudou hábitos e seguiu as recomendações de sua nutricionista Gisele Lemos.

“Como comparação, no Pan de 2019, em Lima, eu estava com 103 kg. Agora estou 20 quilos mais magro, pesando por volta de 83 kg. Essa história começou com minha namorada, que me ajudou a trocar meus hábitos. Então comecei a emagrecer muito, fui procurar a nutricionista e ela mudou minha vida. Hoje vejo o benefício”, conta.

Com o acompanhamento de uma nutricionista, Marcus mudou sua preparação física e planificação. Visualmente era possível ver as mudanças no corpo do atleta, que tiveram reflexo no desempenho. “Eu decidi virar profissional em todos os pilares. Antes eu me dedicava muito à técnica e pouco ao físico”, revela.

A segunda mudança importante em sua carreira foi a decisão de ir para a Coreia do Sul, país mais tradicional no tiro com arco e que conta com 27 medalhas de ouro na história olímpica na modalidade. Lá, o brasileiro treinou com Kim Hyung Tak, uma lenda do esporte e que ajudou o atleta a se desenvolver ainda mais.

“Ele estava na primeira medalha olímpica da Coreia do Sul”, explica Marcus. “Em 2018 eu abri mão de resultados para uma mudança. Achava que precisava de alguma coisa. Fui para a Coreia do Sul de mente aberta, e o resultado começou a vir já em 2019. Mudei a posição dos pés, a posição das mãos. Agora infelizmente por causa da pandemia de covid-19 não estou podendo ir para lá.”

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As técnicas sul-coreanas foram incorporadas ao seu estilo e ele teve de reaprender a atirar do novo jeito. Mas aos poucos foi percebendo a evolução e, junto com as melhoras em suas condições físicas, passou a ser um atleta em evidência internacional. “Um amigo brincou comigo e disse que em 2014 eu fui muito bem e era o Marquinhos, mas agora sou o Marcus D’Almeida”, diz.

Em 2014 o arqueiro foi medalha de prata nos Jogos Olímpicos da Juventude, em Nanquim, na China. O feito alçou o atleta à promessa da modalidade. Depois, no Pan de Toronto (2015) foi bronze por equipes e quatro anos depois, no Pan de Lima, foi prata no individual. Agora, alcança seu maior feito da carreira e se posiciona entre os melhores do mundo.

“Na semifinal eu ganhei do Brady Ellison, que é número um do mundo e era o campeão mundial. E só perdi na final para o Kim Woojin, que é outra lenda. Acho que a gente coloca o tiro com arco em um nível maior agora. Conquistar uma medalha em Mundial é o sonho de qualquer um que está no esporte em alto nível”, afirma.

O ótimo resultado internacional do brasileiro pode ajudar a popularizar a modalidade no País. Ainda são poucos praticantes, mas Marcus recomenda. “Essa é a melhor sensação, quando você atira e vem o resultado. Quando está na linha de tiro, não passa qualquer pensamento na cabeça. Só quer saber de acertar no 10. É um esporte apaixonante, que te dá uma sensação muito viva quando você faz um tiro bom.”

Nos Jogos de Tóquio, o brasileiro foi eliminado nas oitavas de final pelo italiano Mauro Nespoli, que acabou sendo medalhista de prata. Para ele, sua participação olímpica serviu como mais um aprendizado. “A gente sempre sonha com a medalha, queria dar um pulo, mas às vezes é preciso subir um degrau antes. E foi isso que aconteceu. Paris é outra história”, avisa, sobre a próxima edição dos Jogos, em 2024.

Após sua eliminação em Tóquio, o arqueiro voltou para o Brasil e foi treinar. Manteve o foco e acabou conquistando o vice-campeonato mundial, ao perder a decisão para Kim Woojin, campeão olímpico por equipes em Tóquio. O placar foi 7 a 3, com parciais de 29/27, 29/28, 27/30, 28/28 e 29/27. O feito rendeu elogios até de um dos melhores do mundo, o norte americano Brady Ellison. “Ele me cumprimentou e disse que eu atirei muito.”

O Mundial de Yankton, nos Estados Unidos, ficará para sempre na memória de Marcus, mas para um atleta de elite a fila anda rápido. As competições internacionais neste ano terminaram, mas ele ainda vai disputar sua última competição na temporada, o Campeonato Brasileiro, em novembro. “Eu não disputo o circuito indoor, então agora vou descansar duas semanas e começar a me preparar para o Brasileiro. Depois ainda terei mais duas semanas de descanso no Natal e Ano Novo, mas aí 2022 começa tudo de novo com várias competições importantes”, conclui.


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