Milhares de pessoas se mobilizaram nesta quarta-feira (17) em Buenos Aires a favor e contra o governo de Alberto Fernández, em diferentes marchas de protesto contra a escalada da inflação, que alguns atribuem à especulação de empresários e outros à falta de medidas oficiais.

Pela primeira vez desde que Fernández (centro-esquerda) assumiu a presidência em dezembro de 2019, as principais confederações sindicais, aliadas do governo, marcharam até a sede do Congresso para protestar contra o alto custo de vida neste país, que registra uma das maiores taxas de inflação do mundo, acumulando 46,2% de janeiro a julho.

Enquanto isso, organizações sociais de esquerda que reúnem trabalhadores informais e desempregados, cada vez mais em desacordo com o governo, se mobilizaram na famosa Plaza de Mayo, onde fica a Casa Rosada, sede da presidência, para exigir do Executivo medidas que contenham o aumento de preços.

– “Especulação financeira” –

Os sindicatos orientaram suas reivindicações para o setor empresarial e enfatizaram que a marcha buscava simultaneamente “defender o governo (peronista) e denunciar aqueles que tiram um prato de comida dos trabalhadores argentinos”.

“Deixamos claro contra quem é esta marcha: aqui há especulação financeira de quem quer obter grandes lucros com uma desvalorização e há especulação política da oposição, que quer manter a sociedade em dificuldades até 2023 para garantir uma vitória eleitoral” nas eleições presidenciais, declarou o secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT), Héctor Daer, ao final da marcha.

Sem oradores, as grandes colunas sindicais desfilaram pelas ruas do centro até chegarem ao Parlamento, onde se dispersaram.

Em documento divulgado anteriormente, a CGT denunciou “a irresponsabilidade econômica dos grandes formadores de preço que encarecem produtos essenciais para melhorar suas margens de lucro”.

– “Governo cúmplice” –

As organizações sociais de esquerda fizeram “uma marcha diferenciada” e exigiram medidas do governo Fernández.

“Fizemos uma marcha separada porque as centrais sindicais foram chamadas em apoio ao governo. Eles criticam a inflação, mas o governo é cúmplice porque não fez nada e não há medidas para impedir a escalada dos preços”, explicou à AFP Juan Carlos Giordano, da Frente de Esquerda, que também criticou um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) alcançado pelo Executivo para reestruturar a dívida argentina de US$ 44 bilhões com a entidade.

Os movimentos sociais reivindicam mais auxílios estatais e propuseram a aprovação de uma renda básica universal, em um momento em que o governo se vê obrigado a reduzir o déficit fiscal em respeito ao acordo com o FMI.

A Argentina se comprometeu a reduzir seu déficit fiscal de 3% do PIB no ano passado para 2,5% em 2022, 1,9% em 2023 e 0,9% em 2024.

Com a inflação projetada em 90% para este ano, muitos trabalhadores na Argentina constatam que, apesar de terem um emprego formal, seus salários estão abaixo do valor da cesta básica, que marca o limite da pobreza.

Segundo dados oficiais, 37% da população argentina vivia na pobreza no final de 2021.