O empresário Marcelo Odebrecht, que foi preso em junho de 2015 na 14ª fase da Operação Lava Jato, acusou o pai, Emílio Odebrecht, e o irmão, Maurício Odebrecht, de extorsão. Para isso, ele protocolou documentos com gravações e transcrições de diálogos na Justiça de São Paulo e da Bahia. As informações são da colunista Malu Gaspar, do jornal O Globo.

Além disso, Marcelo acrescentou trocas de mensagens eletrônicas com o seu pai e sua mãe, Regina Amelia Bahia Odebrecht.

Na ação, o empresário alegou que o pai e o irmão teriam solicitado a ele que entregasse a sua participação de 20,9% em uma firma chamada EAO Empreendimentos em troca do fechamento de um acordo com o grupo Odebrecht, que estava sendo feito em caráter confidencial.

A parte de Marcelo inclui fazendas e obras de arte da família. Para ele, a sua participação nas propriedades vale entre R$ 150 e R$ 200 milhões, apesar de a EAO registrar na sua contabilidade a quantia total de R$ 74 milhões.

Nas conversas, os negociadores teriam proposto o pagamento de R$ 30 milhões. Porém o empresário recusou a oferta.

Segundo a colunista, ao perceber que o acordo não seria concretizado, Marcelo resolveu entregar todo o material recolhido para a Justiça. Ele também acusou o pai e o irmão de usarem a empresa Odebrecht para conseguir vantagens particulares às custas de seu patrimônio pessoal.

“O objetivo da chicana que as apeladas (a Odebrecht e a Odebrecht SA) movem contra ele e sua família nunca foi de questionar os acordos firmados. Trata-se unicamente de uma tentativa espúria de usar a Justiça para fazer calar, retaliar e extorquir”, alegou Marcelo.

Ainda segundo a colunista, correm duas ações em São Paulo que a Odebrecht moveu contra Marcelo, sua esposa, Isabela Alvez, e as filhas do casal. Em 2021, os processos foram suspensos para que ele e a empresa pudessem negociar um acordo, mas isso foi encerrado por causa de questões envolvendo as fazendas.

Procurados pelo O Globo, Emílio, Maurício e Marcelo não quiseram comentar o caso. A empresa Novonor, antiga Odebrecht, não retornou o contato até o momento.

Relembre o histórico de desavenças

Em junho de 2015, Marcelo Odebrecht foi preso por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa . Em 2017, a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF) Cármen Lúcia homologou a delação premiada da empresa Odebrecht.

Foi nesse momento que a relação de Emílio e Marcelo se desgastou. Enquanto o empresário negava as acusações e rejeitava um acordo, o pai rapidamente aceitou a delação premiada, pois, para ele, seria o único jeito de preservar a empresa.

Em 2017, Marcelo passou para a prisão domiciliar e teve de usar tornozeleira eletrônica.

Em 2019, ele foi demitido por justa causa da própria empresa. Desde então, Marcelo e a Odebrecht se enfrentam na Justiça.

O empresário afirmou durante os seus depoimentos que o seu pai e outros executivos desviavam recursos da empresa e da companhia de petroquímica Braskem, que era presidida por Ruy Sampaio.

Sampaio chegou a acusar Marcelo de chantagear e montar um esquema de extorsão contra alguns executivos para voltar ao comando da Odebrecht.

A Braskem moveu quatro ações contra o empresário e sua família solicitando a anulação de pagamentos e devolução de R$ 143,4 milhões que seriam provenientes de chantagens. A Odebrecht perdeu dois processos e foi condenada a pagar multas de R$ 300 mil por litigância e má-fé.