Era início dos anos 2000 e o Brasil vivia uma era dourada das supermodels. Marcelle Bittar, nascida em Guarapuava, no Paraná, foi uma das figuras mais marcantes dessa geração. Com olhar intenso, traços clássicos e postura elegante, ela conquistou passarelas internacionais e se tornou uma das musas da São Paulo Fashion Week. Desfilou para grifes como Chanel, Dior e Jean Paul Gaultier. Estampou campanhas milionárias e capas de revistas. Era presença certa onde o glamour ditava as regras.
Porém o glamour e a fama que o mundo via eram apenas a superfície. Em uma rara publicação nas redes sociais, compartilhou um registro de seu único irmão. Assustadoramente, mais tarde, esse vínculo foi interrompido. Em 2022, Diogo Bittar de Almeida perdeu a vida durante um assalto em Fortaleza, aos 36 anos. A notícia foi amplamente divulgada em sites e jornais. Marcelle se manifestou com discrição, como quem entende que há dores que não se explicam.
O mundo ainda a aplaudia, mas ela já não se sentia parte do espetáculo. O ritmo da moda, os bastidores exaustivos, os compromissos incessantes, tudo perdeu o sentido. E então ela começou a recuar. Aos poucos, com elegância, foi se afastando das semanas de moda, dos eventos e das campanhas.
Nesse tempo de reencontro, mergulhou em terapias, passou a cuidar da espiritualidade e se dedicar aos estudos. Formou-se em Nutrição Funcional Integrativa e também se especializou em Neurociência do Comportamento. Hoje, atua como nutricionista, com foco em bem-estar físico e emocional. Nas redes sociais compartilha dicas, reflexões e aprendizados com um público que cresceu vendo seu rosto nas passarelas e agora se inspira em conteúdos cheios de propósito.
Ela compartilha informações sobre alimentação, consciência corporal, emoções e autoconhecimento. Fala com calma. Escolhe bem as palavras. Não faz alarde. Não dramatiza o que viveu. Apenas segue, com a serenidade de quem já aprendeu que não precisa mais provar nada para ninguém.
Sobre sua vida pessoal, também há silêncio, mas não ausência. Em 2018, Marcelle deu à luz Lis, sua única filha, fruto do relacionamento com o delegado Luís Guilherme Pinheiro. Antes disso, namorou o advogado Juca Drummond por alguns anos; chegaram a morar juntos, mas se separaram em 2015. Atualmente, não há registros de um novo relacionamento público. A maternidade e o trabalho parecem ocupar, com leveza, o centro de sua vida.
Em um tempo em que para muitos tudo tem que ser exibido, em que cada instante parece depender de aprovação digital para ter valor, Marcelle nos lembra que há beleza no recolhimento. Talvez, depois de anos tendo sua privacidade eclipsada pela exposição constante, ela tenha optado por uma vida em que só uma plateia importa: sua filha e seus poucos, mas bons amigos.
Hoje, a vida de Marcelle Bittar parece mais serena, guiada por sentido, não apenas pelo status. Ainda marcante, sua beleza agora se revela com a delicadeza do real.
Talvez aí esteja um famoso dilema que sua trajetória expõe com tanta clareza: como suportar quando o mundo inteiro aplaude a superfície da imagem, mas não se inclina para acolher as dores mais íntimas? O que fazer quando o brilho das capas, que tanto vendem ilusões, não consegue aquecer a solidão por trás delas? Dinheiro e fama podem iluminar fachadas, mas não preenchem os cômodos silenciosos da alma. A resposta, no caso de Marcelle, foi sair de cena para reencontrar a sua própria essência.
Porque se tem algo que sua história ensina, é que o aplauso coletivo pode ser ensurdecedor e que, às vezes, é preciso silêncio para ouvir o que a alma está tentando dizer e aprender o que a vida tem a nos ensinar.