É um marca-passo como o colocado no coração. A diferença é que ele foi implantado no cérebro e, pela primeira vez, melhorou a qualidade de vida de pacientes com a doença de Alzheimer. Médicos da Universidade de Ohio, nos Estados Unidos, anunciaram os primeiros resultados de um experimento pioneiro baseado no uso de eletrodos para controlar o avanço da enfermidade. As conclusões apontam uma perspectiva promissora, especialmente no auxílio para a realização de tarefas como se vestir, arrumar a casa, fazer comida, ler ou praticar hobbies cultivados ao longo da vida. Coisas simples para quem não tem a doença, mas desafios para seus portadores. “Estamos otimistas”, disse à ISTOÉ o neurocirurgião Ali Rezai, um dos coordenadores do projeto. “Ficamos surpresos em ver como o método melhorou os sintomas.”

Marca-passos são usados para regular a transmissão de sinais elétricos entre uma célula e outra nas áreas onde são implantados. Sem o equilíbrio no fluxo de eletricidade, o funcionamento nessas regiões fica prejudicado. Na neurologia, os dispositivos têm sido utilizados com sucesso no tratamento do Parkinson, atenuando sintomas como tremores e falta de coordenação motora depois de serem colocados em estruturas cerebrais relacionadas a essas funções.

A experiência de Ohio é a primeira a testar sua aplicação clinicamente contra a doença de Alzheimer. Nesse caso, o implante foi feito no lobo frontal. Uma das afetadas pela doença, a região é responsável por funções como julgamento, tomada de decisão e planejamento de ações. Foram apenas três pacientes, entre elas LaVonne Moore, 85 anos. Antes do implante, ela não conseguia mais cozinhar ou se vestir. Hoje, dois anos depois, faz isso sem a ajuda do marido, Tom — além de continuar tocando piano, uma paixão.

Efeito potencial

É cedo para avaliar a importância que o recurso ganhará na luta contra o Alzheimer. “São ainda poucos pacientes e é preciso saber, por exemplo, o custo que ele terá”, afirma o neurologista Denis Bichuetti, membro da Academia Brasileira de Neurologia. Apesar das ponderações, o neurocirurgião Murilo Meneses, do Instituto de Neurologia de Curitiba, acredita no potencial do método. “Ele tem um valor enorme. Abre uma nova possibilidade de tratamento”, diz o especialista. Meneses foi um dos primeiros do Brasil a implantar marca-passos contra o Parkinson e acaba de concluir um artigo no qual apresenta as coordenadas para a implantação dos aparelhos na mesma área agora usada como alvo pelos pesquisadores americanos. Nos EUA, o próximo passo é ampliar o número de pacientes estudados.

 

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