“Quando as medidas de segurança foram adotadas, a procura aumentou. Hoje faço um serviço atrás do outro” Cida Nogueira, empreendedora (Crédito:Marco Ankosqui)

Reformar e decorar a própria casa virou uma das atividades preferidas dos brasileiros nestes tempos de pandemia. Há uma verdadeira febre de consumo de tintas, pisos laminados e azulejos, além de móveis e acessórios de todos os tipos. Sem gastos de viagens de férias e economizando com lazer, muitas pessoas trataram de destinar seu dinheiro para melhorar o lugar onde vivem. Nesse embalo, a bricolagem, a execução de reparos e trabalhos caseiros, também ganhou mercado. Como todos passaram a ficar mais tempo dentro de casa por causa das restrições de deslocamento, surgiu a necessidade de tornar mais confortável o espaço interior onde se vive e também onde muitos passaram a trabalhar, com a escalada do home office. Existe uma explosão de demanda nas grandes capitais por serviços de reparos, organização e decoração das residências. O fenômeno beneficiou fortemente a indústria e o comércio de materiais de construção no País, que cresceram muito mais do que a economia nos últimos 12 meses.

“Antes da Covid-19 as pessoas ficavam fora de casa na maior parte do dia, mas com as quarentenas e o trabalho remoto, a realidade mudou, porque agora elas ficam muito tempo em casa”, diz o arquiteto Maykon Fogliene, que tem escritório na capital paulista. “As reformas não são feitas só para receber os amigos, mas também para adaptar ambientes para o home office.” Segundo ele, a procura por reformas não para e existe, inclusive, uma ansiedade dos clientes para transformar suas residências. O arquiteto vê esta tendência gerada pela pandemia como um investimento na melhoria da qualidade de vida. No seu caso, o número de projetos executados mensalmente praticamente dobrou. Entre outros serviços, o escritório de Fogliene reformou o apartamento da empresária Francine Prado, e também os dois centros de reabilitação para crianças com necessidades especiais que ela administra em São Paulo. “Como nosso negócio está em expansão precisamos fazer adaptações para receber mais alunos”, disse.

QUALIDADE DE VIDA Francine trata de adaptar seu ambiente para o home office (Crédito:Marco Ankosqui)

Otimização do espaço

Além das reformas, houve um forte aumento pelos serviços dos “personal organizers”, profissionais que trabalham na melhora e organização dos cômodos em casas e apartamentos. “Como as pessoas estão em casa, a bagunça aumenta muito. Nós ajudamos o cliente na reorganização residencial, este é o nosso foco, e também preparamos o espaço para o home office”, diz Sheila Soares, empresária da Possível prá Você (@possivelpravoce). “Nem todo mundo tem dinheiro para comprar um imóvel grande e nosso trabalho é ajudar o cliente a otimizar o espaço que ele tem disponível.” Segundo ela, por causa do aumento da demanda, a empresa expandirá sua atuação do Rio de Janeiro para São Paulo.

Esse é o caso também da empreendedora Cida Nogueira, paulistana que atua no mercado de pinturas e papel de paredes há mais de 15 anos. “No começo da pandemia, as pessoas ficaram com medo e houve queda nos serviços”, comenta Cida, que está finalizando a pintura de um apartamento de três dormitórios no Morumbi, em São Paulo. “Mas isto passou quando as medidas de segurança e higiene foram adotadas. Hoje, faço um serviço e começo outro, sempre tem trabalho, a demanda é forte.” Segundo ela, o orçamento varia conforme a metragem da área a ser pintada, as cores ou o papel de parede que o cliente escolhe. Seu trabalho, hoje, envolve uma espécie de consultoria para entender a vontade do cliente. “Após finalizar este apartamento, vou pintar outro com 120 m2”, conta.

O que os profissionais da construção e da decoração percebem na prática é captado nas pesquisas. Em janeiro, a venda de materiais de construção cresceu 0,3%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). No mesmo mês, as vendas do comércio em geral tiveram retração de -0,2%. No fechamento de 2020, o volume de vendas desses materiais teve expansão de 10,8%, enquanto o comércio varejista cresceu 1,2%. Em dezembro do ano passado, houve aumento de 18,8% sobre dezembro de 2019 nas lojas de construção. E o crescimento nas vendas durante a pandemia foi observado em duas etapas, afirma Rodrigo Pothin, diretor comercial da Telhanorte. “Na primeira, as pessoas compram mais tintas e artigos de decoração”, diz. “E na segunda, notamos um crescimento nas vendas de pisos, porcelanatos (azulejos), louças sanitárias e revestimentos.” Ele diz que a Telhanorte teve um crescimento superior a 18%, no volume de vendas no primeiro bimestre de 2021. Em 2020, a empresa começou as vendas diretas pelo Whatsapp, também com bons resultados. O mercado vai de vento em popa e, pelo jeito, a febre das reformas ainda vai demorar para passar.