Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), cerca de 70% dos brasileiros possuem casa própria, e aqui não difiro tipo, local e qualidade das moradias: se imóveis de luxo, apartamentos simples de programas habitacionais, pequenas casas em comunidades, barracos de “pau a pique” em invasões rurais ou em beiras de rios.

Deste total, 62% são proprietários sem ônus sobre suas residências, ou seja, não possuem financiamentos ou outras dívidas a pagar, o que é excelente, já que o Brasil é recordista mundial de juros reais (cerca de 8.5% a.a.). Os demais 8% de possuidores de imóveis, contudo, gastam sangue, suor e lágrimas para quitar seus débitos.

Ainda assim, segundo a excelente Fundação João Pinheiro, em estudo realizado em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), o déficit habitacional brasileiro beira o espantoso número de 6 milhões de moradias. Ou seja, ainda temos, infelizmente, um caminho gigantesco e tortuoso a percorrer.

Pois bem. Quantos desses lares, “do luxo ao lixo”, pequenos ou enormes, quitados ou financiados, no extremo norte ou no extremo sul do País vocês, leitores amigos, leitoras amigas, imaginam ter sido comprados em espécie, dinheiro vivo, bufunfa na mão, nota sobre nota, sem qualquer transação ou rastro bancário?

E mais: do montante transacionado, parcial ou totalmente em espécie, quantos vocês imaginam ser de uma mesma família, de um mesmo clã político cuja trajetória de vida, comprovadamente, se deu – e se dá!! – ligada a funcionários fantasmas, proximidade com milícias e uso confesso da prática de peculato, vulgo rachadinhas?

Sim, estou falando do clã cujo patriarca é ninguém menos do que Jair Bolsonaro, o verdugo do Planalto, presidente da República e candidato à reeleição em outubro próximo. Ele e sua família, incluindo os filhos e as ex-esposas ligadas a políticos, construíram um milionário patrimônio imobiliário, pagando as propriedades, integral ou parcialmente, em dinheiro vivo.

O filho Flávio, rei dos panetones, mora em uma mansão adquirida, em parte, através de um empréstimo de banco estatal, com juros subsidiados, registrada em um cartório de uma pequena cidade vizinha à Brasília, a ilha da fantasia nacional, onde milhões e bilhões de reais jorram sob mensalões, petrolões e outros esquemas de corrupção.

Papai Bolsonaro também morava, antes de se mudar para o Alvorada, em uma mansão em um condomínio no Rio de Janeiro. Seu filho Renan, aquele com cara de canastrão de filme mexicano, investigado pela Justiça por tráfico de influência, mora com a mãe em uma mansão em Brasília, que dizia ser alugada, mas que, agora, confessou ter adquirido.

São mais de 100 imóveis, entre comprados e vendidos, usando dinheiro vivo. São mais de 25 milhões de reais que, de uma forma ou de outra, repito, em parte ou integralmente, escaparam dos órgãos de fiscalização, como o COAF, que Bolsonaro interveio, ainda no começo do governo, por conta das investigações sobre o bolsokid Flávio.

Quem utiliza dinheiro vivo para escapar dos controles oficiais, como sabemos, são ladrões, políticos e empresários corruptos, sonegadores de impostos, traficantes de drogas e de armas, cafetões e afins. Estou dizendo que os Bolsonaros pertencem a este grupo? Não. Estou dizendo que, ao transacionarem assim, podem ser confundidos com criminosos.

Jair Bolsonaro, o amigão do Queiroz, que entupiu a conta da primeira-dama Michelle com 90 mil reais, ao ser perguntado a respeito disse: “qual o problema”? Bem, o problema, caro devoto da cloroquina, é o senhor, na condição de presidente da República, se ver misturado a Fernandinho Beira-mar e Marcola, não sem motivos, compreende, prezado “mito”?

O problema é o senhor e sua família, tão bem sucedidos no mundo imobiliário, há décadas empregados no serviço público, constituírem patrimônio muito acima do corriqueiro. Se tudo se desse dentro da normalidade, ou seja, através do sistema bancário, já seria incomum. Dando-se desta forma, então, em dinheiro vivo, chama ainda mais a atenção de todos.

A política brasileira é tão cafajeste e os eleitores brasileiros, tão medíocres, que nem se importam mais com questões assim. Um caso desses, em democracias desenvolvidas, seria um escândalo de proporções inimagináveis, mas por aqui, em Banânia, torna-se apenas uma disputa entre seitas, por qual ídolo rouba mais ou menos, e de que forma.