Os clássicos não recebem essa definição à toa. Há inúmeras qualidades em “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, uma das grandes obras-primas da literatura mundial. A linguagem sofisticada, os personagens complexos e a trama épica são apenas algumas delas. O que chama a atenção hoje, no entanto, é a atualidade de sua história: se esse manifesto contra as injustiças da vida moderna tivesse sido publicado agora, e não em 1862, como foi, o livro ainda assim estaria em um contexto adequado.

MUSICAL Anne Hathaway: Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante interpretando
a sofredora Fantine (Crédito:Divulgação)

“Os Miseráveis” conta a história de Jean Valjean, preso por 19 anos por roubar um pão. Ao deixar a prisão, quebrado financeiramente e destruído emocionalmente, luta para escapar da obsessão vingativa do policial Javert, seu arqui-inimigo. Valjean assume uma nova identidade e passa a dedicar a vida a ajudar os pobres. Acaba adotando a órfã Cosette, filha da jovem Fantine, cujas dificuldades a levam a se tornar uma prostituta. A história trágica é repleta de personagens inesquecíveis. O contexto histórico também é dramático: a França estava envolvida em um verdadeiro caos após a derrota de Napoleão na batalha de Waterloo, em 1815. O império francês está desmoronando e o país debate se volta à monarquia ou embarca na nova viagem da democracia.

Um lançamento da editora Nova Fronteira faz jus à altura da obra monumental de Victor Hugo. Em uma edição luxuosa composta por dois volumes, o livro traz uma introdução assinada pelo escritor Carlos Heitor Cony que explica a sua importância para a literatura mundial. “Nenhum escritor até hoje ultrapassou Victor Hugo na carga emotiva da palavra escrita”, escreve Cony, morto em 2018. “Não foi sem motivo que ele foi batizado de ‘senhor das lágrimas humanas’ pelo poeta inglês Alfred Tennyson”, conclui.

“Os Miseráveis” ganhou as telas diversas vezes. A primeira foi em 1934, nas mãos do cineasta francês Raymond Bernard. Desde então, foram mais de dez adaptações para a TV e o cinema, sem contar as diversas montagens nos palcos, geralmente em formato de musical. A versão mais recente para o cinema, em 2012, foi justamente um musical dirigido por Tom Hooper e estrelado por um elenco hollywoodiano de peso: Hugh Jackman, Russell Crowe, Anne Hathaway, Eddie Redmayne e Helena Bonham Carter, entre outros. Sucesso de crítica e bilheteria, levou três prêmios da Academia. Anne Hathaway recebeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel como Fantine. Em 2018, a história virou uma série de oito episódios produzida pela BBC, com Dominic West no papel de Valjean e a vencedora do Oscar, Olivia Colman, como a cruel Madame Thénardier. A nova versão, bastante sensual e com uma direção de arte primorosa, está disponível na plataforma de streaming Starzplay.

Em 2000, uma minissérie já havia arrebatado a crítica e o público de forma semelhante com Gérard Depardieu como Valjean e John Malkovich como Javert.

Victor Hugo nasceu dois anos antes de Napoleão ser declarado imperador da França. Seu pai era um alto oficial do exército francês e sua mãe, uma católica que apoiava a família real. Antes de fazer dezoito anos, o jovem escritor viu Napoleão ser exilado e a monarquia ser restituída aos Bourbon, para alegria da mãe e desgosto do pai, para quem o líder francês era um herói.

Disputa familiar

Victor Hugo viveu na pele a divisão histórica pela qual a França passava, e isso se reflete em sua obra. Além de “Os Miseráveis”, ficou popular com “Notre-Dame de Paris”, romance de 1831 que ficou famoso pela história do Quasímodo, o corcunda de Notre-Dame. Pelos dramas sociais que vivemos hoje ou por suas palavras perfeitamente buriladas, Victor Hugo continua mais vivo que nunca.

Lançamento

“Os miseráveis”

Victor Hugo
Editora Nova Fronteira
Tradução: Casimiro L.M. Fernandes
Introdução: Carlos Heitor Cony
Preço: R$ 149,90 e R$ 84,99 (e-book)