Os manifestantes iraquianos, que exigem a queda do regime, temiam nesta quarta-feira (6) que a ocorrência de novos disparos e a nova interrupção da Internet representem um retorno à violência registrada no início de outubro, com as forças de segurança disparando balas reais na capital.
Desde o início do movimento de protesto espontâneo em 1º de outubro, quase 280 pessoas – a maioria manifestantes – foram mortas, de acordo com um balanço compilado pela AFP.
As autoridades propuseram reformas sociais e emendas constitucionais, mas os manifestantes continuam exigindo a saída de todos os funcionários que consideram corruptos e incompetentes, bem como uma revisão completa do sistema político estabelecido após a queda do ditador Saddam Hussein.
No sul, xiita e tribal, a desobediência civil continua a paralisar escolas e administrações, e ganhou a adesão da infraestrutura portuária e da indústria petroleira, vitais para o Iraque.
Neste país, o segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), os moradores estrangulados pelo desemprego e pela pobreza reivindicam sua “parcela de petróleo”.
Em Bagdá, manifestantes foram presos nesta quarta-feira depois de várias trocas de tiros.
Na ponte Al-Chuhada, a quarta bloqueada pelas autoridades para conter o acesso da multidão que continua acampando dia e noite na Praça Tahrir, às margens do rio Tigre, jornalistas da AFP viram manifestantes carregando pessoas feridas por balas.
O representante da ONU no Iraque lamentou as “perdas de bilhões de dólares e pediu para que se proteja as infraestruturas do país”.
– Sinal de sangue –
Desde que os protestos chegaram às pontes Al-Ahrar, na segunda-feira, e Al-Shuhada, na quarta, tiros com munição real – às vezes de grosso calibre – começaram a ressoar novamente na segunda capital mais populosa do mundo árabe.
De 1º a 6 de outubro, segundo dados oficiais, 157 pessoas morreram, a maioria manifestantes em Bagdá, por disparos de atiradores de elite que o Estado disse que não consegue identificar.
Depois, a Internet foi cortada por duas semanas em Bagdá e no sul do país.
As autoridades novamente cortaram o acesso à Internet desde a meia-noite de segunda-feira, em meio a inúmeras prisões de militantes, relataram fontes de segurança e ativistas.
Várias fontes também denunciam no Iraque “operações organizadas de sequestro”.
Uma fonte do governo que exigiu anonimato disse à AFP que “o corte na Internet é o sinal de que haverá sangue”.
Em Basra, no sul do país, as forças de segurança usaram granadas de gás lacrimogêneo.
– Autoridades e Irã –
Enquanto manifestantes e forças de segurança se enfrentam nas ruas, a situação permanece estagnada no nível político.
Na terça-feira, o primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi considerou inviável a proposta do presidente Barham Saleh de realizar eleições antecipadas.
Segundo especialistas, em meio à mais grave crise social que o Iraque atravessa em mais de 15 anos, o primeiro-ministro perde força e espaço, devido aos protestos e à pressão direta e indireta do Irã.
O Irã – que é alvo da fúria dos manifestantes, que acusam Teerã de interferir na política do país – “não está satisfeito com Saleh”, disseram vários líderes políticos à AFP.
“O primeiro-ministro iraquiano não está em posição de resistir: ele sabe que, se não seguir as instruções iranianas, será substituído e considerado culpado por tudo o que está acontecendo”, acrescentou outra fonte.