Uma nova mobilização estava sendo preparada nesta segunda-feira (8) no Paraguai, sacudido desde sexta-feira por protestos exigindo a renúncia do presidente Mario Abdo, a quem os manifestantes acusam de mau desempenho na crise sanitária causada pela pandemia de covid-19.

Embora a presidente tente conter os protestos com a nomeação de novos ministros e a promessa de “corrigir” seus erros, os manifestantes irão às ruas novamente em coincidência com a tradicional marcha do Dia da Mulher. A manifestação feminista em Assunção está programada na praça da Democracia e a concentração de opositores, na praça do Congresso.

“O presidente tem que renunciar, a corrupção é muito grande”, disse a bióloga Carola Recalde, que compareceu à praça portando a bandeira do país. “Ninguém mais confia em Marito, por causa da corrupção. A mudança de ministros não é suficiente, ele tem que renunciar”, acrescentou a dona de casa Lidia Benítez, que contou ter sofrido durante 40 dias com a convalescença de sua mãe, que teve covid. Ela assinalou que o prejuízo econômico para sua família foi milionário.

Na noite de domingo, centenas de pessoas tentaram chegar à casa do presidente para exigir sua renúncia, mas a marcha foi bloqueada pela polícia. Na madrugada desta segunda-feira, um grupo de manifestantes se dirigiu para as proximidades da residência do ex-presidente Horacio Cartes (2013-2018), onde foram dispersos por forças de segurança.

– Vacinas, a prioridade –

A chegada de apenas 4.000 doses de vacinas Sputnik V destinadas ao pessoal de terapia intensiva dos hospitais gerou o descontentamento que apontou para a gestão oficial.

O presidente chileno, Sebastián Piñera, ajudou Abdo enviando imediatamente 20.000 doses de vacinas de Coronavac, na China, para o pessoal de saúde no último sábado.

Por sua vez, o presidente do Senado do Paraguai, Oscar Salomón, anunciou nesta segunda-feira que em poucos dias chegarão mais 36 mil doses da vacina contra a covid-19.

O Paraguai, com pouco mais de 7 milhões de habitantes, espera, sem data precisa, a importação de 4 milhões de vacinas pelo sistema Covax, estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS), além de 1 milhão de doses da Sputnik V. A pandemia já infectou mais de 168 mil pessoas no país, com 3.318 mortos.

“Queremos obter a maior quantidade de vacinas no menor tempo possível”, disse o novo ministro da Saúde, Júlio Borba, em entrevista coletiva nesta segunda-feira. O governante substituiu Julio Mazzoleni, cuja renúncia foi exigida pela oposição na última quinta-feira.

A oposição – minoria no Congresso – liderada por Efraín Alegre, ex-rival de Mario Abdo nas eleições de 2018, anunciou que elaborará um pedido para tentar o impeachment do presidente.

No entanto, isso não será possível sem o apoio dos seguidores do ex-presidente Cartes, um dissidente de Abdo no partido governista Colorado.

O descontentamento popular foi gerado há 10 dias, com protestos em frente aos hospitais de familiares de pacientes com covid-19, unidos por médicos e enfermeiras, devido à escassez de medicamentos no setor público e preços excessivos no setor privado.