Milhares de iraquianos voltaram às ruas neste sábado (7) para protestar contra o regime e seu aliado iraniano, após a morte de 20 manifestantes nas mãos de um grupo armado em Bagdá, gerando o temor de um aumento da violência.

Logo após esse massacre na noite de sexta-feira, um drone lançou um morteiro ao amanhecer contra a casa do líder xiita Moqtada Sadr, um ataque que poderia “desencadear uma guerra civil”, alertou seu porta-voz, Salah al Obeidi, que pediu “moderação”.

Moqtada Sadr, político versátil e ex-chefe de milícia que entregou oficialmente as armas, mas mantém milhares de combatentes, não estava em casa no momento do ataque.

O líder xiita foi o primeiro a reivindicar a saída do governo de Abel Abel Mahdi, cuja demissão foi aceita em 1º de dezembro pelo Parlamento.

No sábado, os manifestantes foram em massa até a Praça Tahrir, epicentro dos protestos em Bagdá, e às ruas de cidades do sul, para pedir a queda de todo o sistema, apesar da forte presença de policiais.

À noite, uma manifestante admitiu que temia mais violência.

“As forças de segurança bloqueavam as ruas que levam à Tahrir e os manifestantes não conseguem entrar, mas os mesmos [agressores] que nos atacaram, sim”, contou.

No entanto, decidiu protestar apesar do que já ficou conhecido como “o massacre de Senek”, com o nome da ponte perto da Praça Tahrir, em Bagdá, onde o ataque ocorreu.

O Estado iraquiano garantiu que não pode identificar os agressores ou detê-los, em um país onde as facções armadas pró-iranianas têm uma influência cada vez maior e, em muitos casos, são integradas às forças de segurança.

– Correndo e gritando –

Na noite de sexta-feira, homens armados não identificados atacaram um estacionamento de vários andares que os manifestantes ocupavam nas imediações da ponte Senek. Vinte manifestantes e quatro policiais morreram, e uma centena de pessoas ficaram feridas, segundo um último balanço de fontes médicas.

O caos provocado pelos tiros, filmado por manifestantes que fugiam aos gritos, foi difundido pelas redes sociais e prosseguiu durante várias horas até a noite.

Membros não armados das Brigadas da Paz de Moqtada Sadr se deslocaram para “proteger” os manifestantes, segundo fontes do movimento.

“As forças de segurança estavam a um quilômetro dali e não fizeram nada”, contou um médico à AFP.

“Os disparos contra os manifestantes foram intensos, foram impiedosos, não deixaram que as pessoas evacuassem os feridos, foi um massacre”, insistiu um manifestante.

Fontes policiais asseguram que tinham informações sobre o desejo de facções armadas pró-Irã de atacar os manifestantes, que agora esperam algo pior.

Para a Anistia Internacional, “o ataque bem coordenado” de vários homens “fortemente armados e a bordo de um longo comboio de veículos” abre “graves interrogações sobre como puderam atravessar os controles em Bagdá e cometer tal massacre”.

– Ataque de drone –

Após a matança, o presidente iraniano, Barham Saleh, pediu às forças de segurança para “proteger os manifestantes pacíficos” e encontrar e julgar “os criminosos”.

“Os atos de violência, liderados por bandos que emergem de lealdades ao exterior poderiam colocar o Iraque em um caminho perigoso”, advertiu a ONU.

Pouco depois do ocorrido, “por volta das 03H00 da madrugada, um drone lançou um projétil de morteiro sobre a casa de Moqtada Sadr” na cidade santa xiita de Najaf, ao sul de Bagdá, informou uma fonte de seu movimento. Segundo a Polícia, não causou danos humanos, nem materiais.

Moqtada Sadr está atualmente no Irã, afirmam várias fontes, um país apontado por manifestantes por dois meses como o arquiteto do sistema político iraquiano, o qual chamam de corrupto e incompetente.

Esse dignatário xiita mantém um relacionamento complicado com Teerã: embora tenha sido visto em público ao lado de líderes iranianos, ele defende a independência política do Iraque e seus apoiadores exibem slogans anti-iranianos ao lado dos demais manifestantes.

Na quinta-feira, milhares de partidários das forças paramilitares pró-iranianas do Hashd al Shaabi, agora integradas nas forças de segurança, se aproximaram da praça Tahrir, mas não foram registrados incidentes.

O Irã agora está na primeira linha das negociações políticas, mas também mais exposto do que nunca à raiva dos manifestantes, que o acusam de ser o arquiteto do sistema político iraquiano.

Os manifestantes pedem uma nova Constituição e uma nova classe política, depois que a atual, imutável há 16 anos, fez desaparecer devido à corrupção o equivalente ao dobro do PIB deste país rico em petróleo.

No total, 445 pessoas morreram violentamente desde o início dos protestos no Iraque, há dois meses, e 20.000 ficaram feridas, segundo um balanço compilado pela AFP.