Pelo segundo dia seguido, Beirute foi sacudida por violentos protestos contra o governo, a quem os milhares de manifestantes acusam de negligência no caso da explosão no porto da cidade, na terça-feira, 4, que devastou metade da capital libanesa, matou 154 pessoas e feriu mais de 6 mil. Dois ministros renunciaram ontem e houve uma nova tentativa de tomada do Parlamento, com confrontos entre os manifestantes e as forças de segurança do país.

Manal Abdel Samad, ministra da Informação, foi a primeira a deixar o cargo. Em seguida, Damianos Kattar, do Meio Ambiente e Desenvolvimento, também pediu demissão. Samad disse que a sua decisão era uma resposta “ao desejo público de mudança” e “em respeito aos mártires” do país. Ainda neste domingo, 9, mais um deputado renunciou ao cargo. Michael Mouawad seria o sétimo a abandonar a cadeira desde o dia da explosão.

O principal líder da Igreja Cristã Maronita, o patriarca Bechara Boutros al-Rai, defendeu, durante um sermão, que todo o gabinete deveria se demitir. “A renúncia do primeiro-ministro ou de um ministro não é o bastante. O governo todo deveria renunciar já que não é capaz de ajudar o país a se recuperar.”

O primeiro-ministro, Hassan Diab, no entanto, resiste. Enquanto os atos cresciam em número de pessoas e violência, ele se encontrava com outros ministros para desencorajá-los a pedir demissão, informou a imprensa libanesa. No sábado, 8, ele disse que iria antecipar as eleições parlamentares e que ficaria no governo por mais dois meses, tempo para que as forças políticas organizem o pleito.

De acordo com uma pessoa que pediu anonimato e teve acesso às reuniões de Diab e seu gabinete, o primeiro-ministro disse que todos deveriam “assumir a responsabilidade” em meio à crise. “No momento, não podemos deixar o país sem comando”, disse Diab, de acordo com um interlocutor.

“Não vamos desistir”, afirmou Pascale Asmar, “Nós o chamamos de vaso, porque ele é só para se exibir, ele não faz nada.”

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O governo de Diab, formado em janeiro após manifestações em massa que ocorriam desde outubro e derrubaram Saad Hariri ainda no ano passado, tinha a promessa de reunir uma equipe de tecnocratas, mas acabou sendo loteado por facções familiares, incluindo membros da milícia xiita Hezbollah.

Durante os protestos de ontem, de acordo com o jornal libanês Daily Star, um grande grupo de manifestantes tentou invadir o prédio do Parlamento – houve um incêndio na praça onde fica o imóvel. Os manifestantes conseguiram, porém, entrar nos escritórios dos ministérios da Habitação e do Transporte. No sábado, eles já haviam tomado o Ministério das Relações Exteriores, o qual passaram a chamar de “sede da revolução”.

A Cruz Vermelha Libanesa disse que pelo menos 65 pessoas foram transportadas para hospitais e 185 tratadas no local. O Exército disse que 105 soldados ficaram feridos.

Conferência

Líderes internacionais se encontraram ontem em uma conferência virtual para discutir a ajuda ao país. O presidente francês, Emmanuel Macron, anfitrião da reunião, indicou que o auxílio deveria ser destinado diretamente para o povo libanês.

Macron disse que eles deveriam “agir com rapidez e eficiência para que essa ajuda vá diretamente para onde é necessária”. “O futuro do Líbano está em jogo.” O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou que o seu país está “pronto e desejoso” para auxiliar o povo do Líbano.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) afirmou que pode “redobrar esforços” para ajudar o Líbano, mas as instituições do país precisam realizar reformas estruturais com urgência, uma demanda a qual o governo libanês resiste em adotar. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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