As forças de segurança sudanesas usaram gás lacrimogêneo para conter os manifestantes nesta quinta-feira no centro de Cartum, em mais um dia de protetos contra o presidente Omar Hassan Ahmad al Bashir, quatro semanas após o início do movimento que reclama do aumento dos preços do pão e dos remédios.

Os organizadores pediram uma nova marcha até a sede da presidência e manifestações simultâneas em outras 11 cidades, incluindo Port Sudan, Madani, Gadaaref, Al Obeid e Atbara.

Os arredores do palácio presidencial foi cercado por veículos militares e soldados com metralhadoras.

Nas últimas semanas, protestos em Cartum e outras cidades foram reprimidos pela polícia com gás lacrimogêneo.

Desde 19 de dezembro, 24 pessoas morreram, de acordo com um relatório oficial.

As ONGs Human Rights Watch e Anistia Internacional relatam pelo menos 40 mortes, incluindo crianças e pessoal médico.

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Cerca de mil pessoas, entre ativistas, opositores e jornalistas, foram presas, de acordo com os grupos de direitos humanos.

A Associação de Profissionais, que reúne médicos, professores e engenheiros, lidera as manifestações contra o governo.

As manifestações representam o maior desafio para Al Bashir desde sua ascensão ao poder em 1989, através de um golpe apoiado por islamitas, afirmam os analistas políticos.

Os manifestantes, que utilizam as redes sociais, gritam por “liberdade, justiça e paz” e também “o povo quer a queda do regime”, que foi o slogan dos movimentos da Primavera Árabe de 2011.

Os habitantes freqüentemente sofrem com a escassez de alimentos e combustível e com a alta inflação de certos produtos.

O governo afirma que as dificuldades econômicas se devem ao pesado embargo imposto pelos Estados Unidos ao Sudão entre 1997 e 2017.

Essas sanções incluíam a proibição de atividades comerciais e transações financeiras.

Para os críticos do poder, Al Bashir é culpado de má gestão econômica e por gastar muito na luta contra os grupos rebeldes que existem no país.

Além disso, a secessão do Sul em 2011 privou o Sudão de três quartos de suas reservas e receitas de petróleo.

“As manifestações não levarão a uma mudança de poder”, disse Al Bashir em uma reunião de seus partidários em Niyala, na região de Darfur.


“Só há uma maneira de chegar ao poder, a das eleições. As pessoas decidirão em 2020 quem deve governar”, declarou o presidente de 75 anos, que aspira a um terceiro mandato.

Em 1964 e 1985, duas revoltas populares levaram à queda do então regime, mas desta vez a estrada será longa para os adversários, afirmam os analistas.

“No momento, Bashir parece ter o apoio das forças armadas”, explica Willow Berridge, especialista em Sudão.

O atual governo pode sobreviver às manifestações, segundo um relatório do grupo de pesquisas do International Crisis Group (ICG).

“Mas isso terá um custo, o de um declínio econômico, uma revolta popular maior, mais manifestações e uma repressão mais dura”, conclui o relatório.


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