Foram retomados com mais intensidade em Bagdá e no sul do Iraque, nesta quarta-feira (13), os protestos contra o governo, que também é alvo de uma crescente pressão das Nações Unidas em favor de reformas.
Desde 1º de outubro, mais de 300 pessoas morreram – manifestantes em sua maioria. Diante dessas mortes, do aumento da repressão, das detenções e das intimidações, a mobilização se conteve por alguns dias.
Nesta quarta, porém, a multidão voltou a encher a praça Tahrir de Bagdá, epicentro dos protestos, especialmente após a convocação da greve geral dos professores.
“Estamos aqui para apoiar os manifestantes e suas reivindicações legítimas”, afirmou o professor Aqil Atchane, na Tahrir.
Em Basra, cidade petroleira e costeira, as marchas também foram retomadas, apesar de vários dias de violência.
Cerca de mil estudantes voltaram a levantar seu acampamento na frente do conselho provincial, depois que as forças da ordem atearam fogo em suas barracas há uma semana.
Em Nassiriya e Diwaniya, no sul agrícola, as escolas permanecem fechada há semanas.
Para muitos manifestantes do sul xiita, o grande aiatolá Ali Sistani deu um novo impulso ao movimento na segunda-feira, ao considerar que “os manifestantes não conseguem voltar para suas casas sem as reformas necessárias”.
“Se ordenar a desobediência civil para todos, vai tudo fechar: o governo, as companhias petroleiras, tudo. É assim que chegaremos a uma solução”, brandiu um jovem na Tahir.
– Uma reorganização?
Os manifestantes reclamam uma nova Constituição, uma renovação do sistema político e da classe dirigente para terminar com “os ladrões” e com “os corruptos” no país, um dos mais ricos em petróleo no mundo.
Diante da crise, a chefe da Missão de Assistência da ONU no Iraque (Unami), Jeanine Hennis Plasschaert, pressionou o presidente do Parlamento, Mohamed al-Halbusi, e os líderes dos blocos parlamentares para “agirem agora”.
“A confiança do público está em seu nível mais baixo”, e os dirigentes “devem lhe prestar contas”, disse ela à AFP. É preciso “começar a aplicar uma série de reformas-chave”, insistiu.
Hennis Plasschaert já obteve o apoio do aiatolá Sistani para o plano que prevê a revisão da lei eleitoral e emenda na Constituição.
O governo entregou ao Parlamento um projeto de lei eleitoral apresentado como sua principal reforma, mas o texto ainda não consta da agenda da Assembleia.
Os deputados se contentaram com votar mais leis para controlar a economia e decidiram convocar dois ministros, o que leva a suspeitar da reorganização anunciada pelo primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi.
– “Um enorme vazio” –
Inicialmente, os manifestantes reivindicavam empregos e melhores serviços públicos. Agora, também pedem a renúncia de todas as autoridades políticas e uma renovação total do sistema político implementado desde a queda do ditador Saddam Hussein, em 2003. As lideranças políticas cerraram fileiras para retomar o controle.
O primeiro-ministro Adel Abdel Mahdi ainda não explicou o motivo pelo qual não renunciaria. O presidente Barham Saleh, que manteve um baixo perfil durante um tempo, agora aparece junto dele.
A pedido do poderoso general iraniano Qassem Soleimani, que intervém regularmente nos assuntos iraquianos, chegaram a um acordo para pôr fim à disputa.
Desde o acordo, 18 manifestantes saíram mortos, muitos deles por munições reais, segundo fontes médicas.
O líder xiita Moqtada Sadr, que inicialmente defendia a queda do governo, pediu hoje ao Parlamento que aprove reformas radicais, ao mesmo tempo em que pediu aos iraquianos para manter a pressão.
No Twitter, contudo, parecendo amenizar suas convocações anteriores, ressaltou que são necessários “meios inteligentes” para “renovar” os líderes governistas e evitar um “enorme vazio”.
Em Bagdá, o presidente da região autônoma do Curdistão iraquiano, Neshirvan Barzani, reuniu-se com Abdel Mahdi, Saleh e Halbusi. Os curdos – cerca de 20% do Parlamento – se opõem a uma reforma constitucional que modificaria seu estatuto de autonomia.