Aliados de Jair Bolsonaro (PL) se reuniram na tarde deste domingo, 7, na manifestação em defesa pela anistia do ex-presidente e com foco nos ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). O grupo se concentrou na Avenida Paulista e teve a participação da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e dos governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), que não marcaram presença na edição de agosto.
O evento, que contou com mais de 42 mil pessoas na avenida, teve como foco a pressão pelo avanço do PL da Anistia, em tramitação na Câmara dos Deputados. A proposta prevê a anulação da possível pena contra Bolsonaro, em julgamento no STF, no processo da trama golpista.
Além de cânticos contra Moraes, os bolsonaristas entoaram palavras de ordem contra Lula e chegaram a fazer uma oração no final. Entre uma fala e outra, um bandeirão dos Estados Unidos circulou pela avenida, fora os cartazes a favor do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
O tom dos discursos foram mais serenos em relação ao Congresso Nacional em relação às últimas edições. Desta vez, como mostrou a ISTOÉ, bolsonaristas adotaram um tom mais ameno contra o Congresso Nacional e poupariam Hugo Motta (Republicanos-PB) e Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) após a sinalização da votação do projeto para a próxima semana.
Tarcísio de Freitas foi o único que fez uma cobrança mais enfática ao presidente da Câmara. O governador chegou a se reunir com Motta na semana passada para pressionar o avanço do texto após articular o apoio de líderes do Centrão.
O governador, inclusive, subiu o tom contra o STF e Alexandre de Moraes, chamando o ministro de ditador e tirano. O chefe do Bandeirantes ainda disse não haver provas contra Bolsonaro, criticou a delação do tenente-coronel Mauro Cid e defendeu a anistia “ampla e irrestrita”.
“Não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre o outro. Chega. Não vamos aceitar que nenhum ditador diga o que temos que fazer”, afirmou o ministro.
“Talvez porque ninguém aguente mais. Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo neste país”, concluiu.
Desde a última semana, Tarcísio tem atuado como a principal voz do projeto de perdão a Bolsonaro. O governador foi à Brasília para negociar o texto diretamente com líderes do Centrão e conseguiu o apoio de Marcos Pereira, presidente do Republicanos, forçando Motta a pautar o projeto.
O governador de São Paulo ainda reforçou que Bolsonaro será o candidato à presidência em 2026, mesmo com o ex-presidente ilegível até 2030. O projeto negociado por Tarcísio também anula as condenações de Jair Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o liberando para concorrer no próximo ano.
Michelle Bolsonaro evitou as críticas duras ao STF, afirmou não haver provas contra o marido e disse acreditar na reversão do cenário. Emocionada em boa parte do evento, usou referências religiosas, pontuou dificuldades que tem passado após a prisão domiciliar de Bolsoanaro e criticou as medidas cautelares impostas contra ele.
Outro a usar um discurso ácido, Silas Malafaia focou em ataques a Alexandre de Moraes. Ele é investigado por obstrução de justiça no curso do processo da trama golpista.
Malafaia manteve as ofensas como “ditador de toga” e disse haver uma perseguição religiosa contra ele. Silas também rebateu as provas colhidas pela Polícia Federal contra ele. O pastor nega haver qualquer indício que o coloque na mira do STF.
Silas Malafaia aproveitou sua fala para atacar a esquerda e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem chamou de “verdadeiro traidor da pátria”
PL da Anistia avança na Câmara
Após a articulação de Tarcísio, Hugo Motta avisou os líderes de que não conseguiria segurar e que há votos necessários para aprovar o texto. Em reunião com o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), Motta evitou se comprometer com um cronograma, mas garantiu a votação após o fim do julgamento, previsto para sexta-feira, 12.
O projeto prevê a anistia total e irrestrita a todos os condenados pelos ataques de 8 de janeiro. O mote do texto está em conceder o benefício para Jair Bolsonaro, que pode pegar uma pena de até 43 anos.
Bolsonaro é acusado de liderar a organização criminosa e de participar ativamente na elaboração da minuta do golpe para evitar a posse de Lula. O documento também previa a formação de uma comissão provisória liderada por militares para investigar as supostas fraudes eleitorais e convocar novas eleições.
O ex-presidente, de acordo com a Procuradoria-Geral da República (PGR), apresentou o documento para os comandantes das Forças Armadas e chegou a pressioná-los para aderir ao plano golpista. O então líder da Marinha, o almirante Almir Garnier, deu aval à ideia, mas os comandantes do Exército Marco Antônio Freire Gomes e da Aeronáutica, o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, se negaram a aderir à proposta. A tese foi corroborada por Freire Gomes e Baptista Junior em depoimentos à Polícia Federal.
Gonet ainda reforça que o ex-presidente da República tinha ciência e deu o aval para a execução do plano “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato de autoridades, como Moraes, Lula e o vice-presidente Geraldo Alckmin. O documento foi elaborado pelo general Mário Fernandes, ex-número 2 da Secretaria-Geral da Presidência, e impresso nas dependências do Palácio do Planalto.
A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro nega todos os crimes atribuídos à ele.