O movimento das “sardinhas”, que desafia o político de extrema-direita Matteo Salvini, reuniu neste sábado dezenas de milhares de pessoas na Praça de San Giovanni, em Roma, numa manifestação contra os conservadores e suas ideias fascistas.

Os organizadores do protesto estimaram que cerca de 100 mil pessoas compareceram ao ato, enquanto a polícia da capital italiana indicou que foram 35 mil participantes.

O movimento espontâneo, que não deseja vínculos com qualquer partido, foi criado por quatro jovens desconhecidos, indignados com a linha política de Salvini de ódio e exclusão.

Neste sábado, com o objetivo de agitar as consciências da Itália, a multidão cantou com grande entusiasmo a famosa canção de resistência “Bella Ciao” e o hino nacional, enquanto ouvia a leitura de partes da Constituição.

“Me parece uma excelente iniciativa, fala de valores que compartilho, antifascismo, antirracismo, respeito à Constituição e às minorias”, disse à AFP uma manifestante.

“É um movimento que dialoga com todos, não só com a esquerda”, afirma Lamberto Damiani, de 60 anos.

O movimento conseguiu reunir em tempo recorde, em meados de novembro, 15 mil pessoas na praça central de Bolonha, no mesmo horário em que o líder da extrema-direita reunia em um estádio desta cidade cinco mil militantes.

Um verdadeiro fenômeno que, com o nome de um peixe pequeno que se movimenta em grupos apertados, sardinha, e sem bandeiras, se espalhou por todo o país e encara sem medo um dos tubarões da política italiana.

Desde então foram organizadas manifestações em cidades como Milão, Turim e Florença, Rimini, Parma, Perugia, Sorrento, Nápoles, Palermo e Bari.

O movimento cresceu e já foi adotado em outros países, como a Espanha, onde cerca 300 pessoas se reuniram neste sábado na Porta do Sol de Madrid em solidariedade aos manifestantes da Itália.

Entre os participantes deste encontro, havia muitos italianos que exibiam cartazes com desenhos de sardinhas e outros onde era possível ler “Em Madri, outra Itália”.

Para Angelo Pirola, de 43 anos, funcionário de uma ONG em Madri, o protesto “tem que ir além da Itália e mirar (Donald) Trump (presidente dos EUA), (Jair) Bolsonaro (presidente do Brasil), e também o Vox (partido espanhol de extrema- direita)”, declarou.

“Somos antifascistas, estamos a favor da igualdade e, portanto, contra a intolerância, a favor da diversidade de gênero e, portanto, contra a homofobia”, afirmou à AFP Mattia Santori, um pesquisador universitário, com quatro empregos, de 32 anos e um dos fundadores do movimento.

Os manifestantes apresentaram também suas exigências, especialmente que “os ministros comuniquem unicamente através dos meios institucionais”, uma clara alusão às frequentes transmissões ao vivo de Matteo Salvini no Facebook.

O movimento pede também que “a violência verbal seja considerada violência física “pelos legisladores”, acrescentou Santori.

O movimento atrai todos os partidos, exceto, é claro, a extrema-direita.

“Faremos todo o possível para implementar suas propostas”, escreveu numa rede social Nicola Zingaretti, secretária do Partido Democrata (centro-esquerda) no poder com o Movimento 5 Estrelas (antissistema), do qual faz parte Virgina Raggi, prefeita de Roma, que agradeceu às sardinhas “a energia trazida para a cidade”.

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